ATA DA DÉCIMA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 03.04.1989.
Aos três dias do mês de
abril do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões
do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima
Segunda Sessão Ordinária da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima
Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos foi realizada a segunda
chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adroaldo Correa, Airto Ferronato,
Artur Zanella, Clóvis Brum, Cyro Martini, Décio Schauren, Dilamar Machado, Edi
Morelli, Elói Guimarães, Ervino Besson, Flávio Koutzii, Gert Schinke, Giovani
Gregol, Heriberto Back, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, José Alvarenga, João
Dib, João Motta, José Valdir, Lauro Hagemann, Leão de Medeiros, Letícia Arruda,
Luiz Braz, Luiz Machado, Mano José, Nelson Castan, Valdir Fraga, Vicente Dutra,
Vieira da Cunha, Wilson Santos, Wilton Araújo e Ilo Sperb. Constatada a
existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e
solicitou ao Ver. Ervino Besson que procedesse à leitura de trecho da Bíblia. A
seguir, o Sr. Secretário procedeu à leitura das Atas da Décima Primeira Sessão
Ordinária e da Segunda Sessão Especial, que foram aprovadas. À MESA foram
encaminhados: pelo Ver. Airto Ferronato, 01 Pedido de Providências, solicitando
que seja tapado um buraco na Rua José Scutari, esquina com a Rua Atanásio
Belmonte; pelo Ver. Dilamar Machado, 01 Pedido de Informações, acerca da
interrupção do tráfego de veículos nos fins de semana, na Av. Edvaldo Pereira
Paiva (Beira Rio); pelo Ver. Jaques Machado, 01 Indicação, sugerindo ao Sr.
Governador do Estado a instalação de um telefone público comunitário na Escola
Ana Iris do Amaral, que funciona junto à Faculdade Porto-Alegrense, na Rua
Manoel Elias nº 2001; pelo Ver. Isaac Ainhorn, 01 Pedido de Providências,
solicitando remanejamento de paradas de táxis-lotação da Rua Vigário José
Inácio para a Praça Portão e para a Rua Marechal Floriano; 01 Projeto de Lei do
Legislativo nº 24/89 (proc. nº 908/89), que denomina Rua Marcos Spritzer um
logradouro público; pelo Ver. João Dib, 01 Pedido de Providências, solicitando
que seja reposto o calçamento em paralelepípedo na Rua Felicíssimo de Azevedo,
em frente ao nº 351; pelo Ver. Leão de Medeiros, 04 Pedidos de Providências,
solicitando colocação de lâmpadas na Rua Gorki, em frente ao nº 27; na Rua Raul
Moreira, em frente ao nº 183; na Praça Associação Riograndense de Imprensa; na
praça existente na Rua Emília Stefani Aloísio; pela Verª. Letícia Arruda, 01
Indicação, sugerindo ao Sr. Governador do Estado a instalação de um telefone
público, tipo “orelhão”, na Rua Maracanã nº 82; 01 Pedido de Informações,
acerca da desativação dos gabinetes médicos e odontológicos nas escolas
municipais; pelo Ver. Luiz Braz, 01 Pedido de Providências, solicitando a
colocação de placas denominativas no Largo Amorim Albuquerque; 01 Indicação,
sugerindo ao Sr. Governador do Estado a instalação de um telefone comunitário
na Escola Estadual de 1º Grau Incompleto Custódio de Melo, na Rua “D” s/nº,
Vila dos Sargentos; pelo Ver. Luiz Machado, 02 Pedidos de Providências,
solicitando desobstrução de rede de esgoto pluvial em frente ao Centro
Comercial da II Unidade, Restinga, Rua Tem. Arizoly Fagundes; conserto do
semáforo situado na Estrada João Antônio da Silveira com a Av. Nilo Wolff,
Restinga, (vidros dos luminosos quebrados); pelo Ver. Nelson Castan, 02 Pedidos
de Providências, solicitando aterro, patrolagem, ensaibramento e canalização das
Ruas Moçambique, L, I, K, 2, C, Beco da Servidão, Figueira 1 J, Vila Safira
Nova, bem como trecho de esgoto pluvial na Rua Moçambique nº 90; melhoria no
transporte coletivo, com criação de uma nova linha Rincão-Glória-Centro, que
serve o Bairro Belém Velho. Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios nºs
01/89, da Comissão Especial constituída para examinar problemas que envolvam a
segurança da população desta Capital; 91/89, da Câmara Municipal de Morro
Redondo, RS; Circulares s/nºs, da Câmara Municipal de Belo Horizonte;
da Câmara Municipal de São José do Rio Preto; Carta do Consulado Geral da
Itália; Telex do Prof. Marcos Leão, da TV Bandeirantes. Ainda foram apregoados
o Ofício nº 247/89, do Sr. Prefeito Municipal, e o Pedido de Autorização nº
01/89 (proc. nº 974/89), Sexto Termo Aditivo ao convênio celebrado entre o
Governo do Estado do Rio Grande do Sul, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre
e o Departamento Nacional de Obras e Saneamento, com a finalidade específica de
definir participação mútua num programa integrado para o prosseguimento das
obras de proteção contra inundações da Cidade de Porto Alegre. Após foram
deferidos pelo Sr. Presidente Requerimentos do Ver. Mano José, solicitando que
o Projeto de Lei do Legislativo nº 163/88 seja desarquivado e retomada ou
renovada sua tramitação regimental; do Ver. Vicente Dutra, solicitando que o
Projeto de Lei do Legislativo nº 115/82 seja desarquivado e retomada ou
renovada sua tramitação regimental. Em GRANDE EXPEDIENTE o Ver. Cyro Martini,
comentando os eventos realizados durante as comemorações da Semana de Porto
Alegre, congratulou-se, em especial, com a inauguração das Oficinas de Cultura
do CIEM João Goularte, discorrendo acerca dos elementos envolvidos em um
processo educacional, que deve ser muito mais abrangente do que as meras
atividades próprias de uma sala de aula. O Ver. Gert Schinke discorreu sobre
questionamentos levantados na Casa semana passada, acerca de depósito de lixo
clandestino que teria sido encontrado no Município. Declarou que vêm sendo realizados
estudos visando a organização de um projeto que solucione o problema da
destinação e do reaproveitamento do lixo de Porto Alegre. Lamentou o descaso da
Secretaria Estadual de Saúde com essa questão. Comentou Projeto de Lei do Ver.
Clóvis Brum, que trata da regulamentação do transporte escolar. Registrou a
realização, na próxima quinta-feira, de Sessão Solene em homenagem ao Dia
Nacional da Saúde. O Ver. Flávio Koutzii teceu comentários acerca da atual
conjuntura brasileira e suas conseqüências na sucessão presidencial. Falou
sobre os resultados da primeira pesquisa de opinião pública quanto às eleições
presidenciais de novembro do corrente ano, analisando os resultados ali
observados. Salientou as diferenças ideológicas básicas verificadas entre o PT
e o PDT, principalmente com relação a constituição de alianças com outros
Partidos. A seguir, nos termos do art. 81, II do Regimento Interno, o Sr.
Presidente concedeu a palavra ao Ver. Artur Zanella, que falou sobre os
resultados do Congresso realizado em Santa Maria pela UVERGS, salientando a
reativação de Comissão para tratar de assuntos referentes à Constituição
Estadual. Comentou proposição apresentada pelos Prefeitos Municipais para essa
Constituição, destacando, em especial, que tal proposição retira várias
prerrogativas que atualmente possuem as Câmaras Municipais. Solicitou uma maior
discussão do tema por este Legislativo. Declarou ter sido eleito como
Vice-Presidente da UVERGS. Após, o Sr. Presidente comunicou a reativação da
Comissão Externa criada na Casa com vistas a acompanhar os trabalhos da
Constituinte Estadual, ficando a mesma assim constituída: Vereadores Wilton
Araújo, Isaac Ainhorn, Elói Guimarães, Flávio Koutzii, Adroaldo Correa, Vicente
Dutra, Artur Zanella, Wilson Santos, Luiz Braz, Clóvis Brum, Omar Ferri e Lauro
Hagemann. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Clóvis Brum discorreu acerca das
eleições presidenciais a serem realizadas em novembro próximo, destacando serem
o PT e o PDT Partidos de candidatos únicos, o mesmo não ocorrendo com o PMDB.
Disse que seu Partido escolherá seu candidato em convenção nacional. Comentou o
pronunciamento, de hoje, do Ver. Gert Schinke, acerca da Secretaria Estadual de
Saúde. O Ver. João Dib reportou-se à Questão de Ordem formulada semana passada,
acerca da auto-aplicabilidade ou não da Lei 186. Comentando debate mantido esta
manhã, entre os Secretários Municipais da Fazenda e da Administração e este
Legislativo, acerca do orçamento municipal, declarou possuir o Executivo
Municipal os recursos necessários para viabilizar o reajuste salarial buscado
pelos municipários. O Ver. Artur Zanella, dizendo não ter recebido no prazo
legal resposta de Pedidos de Informações que fez ao Executivo Municipal,
solicitou providências da Casa a respeito. Destacou estar encaminhando Pedido
de Informações acerca do pagamento ou não, pelo Executivo Municipal, dos trinta
por cento devidos aos funcionários que entraram em férias. Criticou o
Secretário Antonio Hohlfeldt, pelo não-fechamento da Av. Beira Rio durante
rústica ali realizada em homenagem ao Sport Clube International. Solicitou a
devolução, para a Auditoria da Casa, do Processo nº 697/89. E o Ver. Luiz Braz,
comentando Sessão Especial realizada esta manhã, destinada a ouvir os
Secretários Municipais da Administração e da Fazenda quanto ao orçamento
municipal, atentou para declarações de S. Sas. de que seriam realizadas novas
reuniões com vistas a buscar o índice de reajuste salarial dos municipários,
salientando que isso apenas adia uma solução para o assunto, com grande prejuízo
desses funcionários. Após, constatada a existência de “quorum”, foi iniciada a
ORDEM DO DIA. Em Discussão Geral e Votação Secreta foi aprovado o Projeto de
Lei do Legislativo nº 57/88, considerando-se rejeitado o Veto Total a ele
aposto, por vinte votos SIM contra doze votos NÃO, após ter sido discutido
pelos Vereadores Artur Zanella, Leão de Medeiros, Elói Guimarães, Adroaldo
Correa, Isaac Ainhorn, João Motta, José Valdir, Giovani Gregol, Wilson Santos e
Heriberto Back, tendo sido escrutinadores os Vereadores Leão de Medeiros e Cyro
Martini. A seguir, foram aprovados os seguintes Requerimentos: do Ver. Artur
Zanella, de Votos de Congratulações com Eurito Druck e Péricles Druck, pela
passagem do aniversário do Hotel Lage de Pedra; com Ubirajara Sá Gomes e Paulo
Nadler, pela passagem do aniversário do Grêmio Náutico União; com Osvaldo Vaz
Ferreira, por sua posse como novo Presidente e pelo aniversário do Clube
Farrapos; do Ver. Gert Schinke, solicitando a realização de Sessões Solenes nos
dias seis de junho do corrente ano, pela passagem do Dia Mundial do Meio
Ambiente e da Ecologia; dez de agosto do corrente ano, pela passagem do Dia
Internacional da Bomba Atômica Nagazaki; cinco de setembro do corrente ano,
pela passagem do Dia da Amazônia; dezenove de setembro do corrente ano, pela
passagem do Dia da Árvore; vinte e seis de setembro do corrente ano, pela
passagem do Dia da Juventude; do Ver. Ilo Sperb, de Voto de Congratulações com
o Jornalista Carlos Wagner, pelo lançamento de seu livro “A Saga do João da
Terra”; do Ver. Isaac Ainhorn, de Votos de Pesar pelos falecimentos de Cecy
Azambuja Velho, de Juracy da Costa Brum; do Ver. Leão de Medeiros, de Voto de
Pesar pelo falecimento de Maria Hercilia de Oliveira Morejano; do Ver. Luiz
Machado, solicitando a realização de uma Sessão Solene, dia vinte e um do
corrente mês, dedicada a homenagear o ex-Presidente da República, Dr. Tancredo
Neves; do Ver. Mano José, de Voto de Congratulações com o Dr. Cláudio Algayer e
o Dr. Paulo Maciel, pelas posses na condição de Presidente e vice-presidente da
Associação dos Hospitais do Rio Grande do Sul; do Ver. Valdir Fraga, de Votos
de Congratulações com os Clubes de Mães Cruzeiro do Sul; Flor do Ipê e Padre
Reus, pela passagem de seus aniversários de fundação; com Artefacto
Publicidade, pela outorga do “Prêmio Colunista”, fase regional, na categoria
comunitária, pela campanha de alerta realizada no Vale dos Sinos, visando à
despoluição do Rio dos Sinos; do Ver. Vicente Dutra, solicitando que parte da
Sessão do dia sete do corrente mês seja destinada a homenagear o Rotary Clube
Porto Alegre-Norte, pela passagem de seu aniversário; e de Votos de
Congratulações com o Rotary Club Porto Alegre, Leste, pela passagem de seu
aniversário; e com o Grêmio Náutico Gaúcho pela passagem de seu aniversário; do
Ver. Vieira da Cunha, solicitando que o Projeto de Lei do Executivo nº 171/88
seja considerado em regime de urgência e submetido à reunião conjunta das
Comissões de Justiça e Redação e de Educação e Cultura; do Ver. Wilton Araújo,
de Voto de Congratulações com a Prefeita Municipal de São Paulo Luiza Erundina,
por ter concedido reajuste de 273% para o funcionalismo municipal nos dois
últimos meses, este encaminhando à votação pelos Vereadores Clóvis Brum, Flávio
Koutzii, João Dib, Luiz Braz e Wilton Araújo e votado em destaque a
Requerimento verbal, aprovado, do Ver. Clóvis Brum. Durante a Sessão, o Sr.
Presidente respondeu Questão de Ordem do Ver. Artur Zanella, acerca do
Requerimento do Ver. Gert Schinke, de solicitação de realização de uma Sessão
Solene pela passagem do Dia Internacional da Bomba Atômica Nagazaki. Os
trabalhos foram prorrogados nos termos do “caput” do art. 85 do Regimento
Interno, por proposta do Sr. Presidente, aprovada pela maioria dos presentes.
Às dezoito horas e cinqüenta e sete minutos, terminada a Ordem do Dia, o Sr.
Presidente levantou os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a
Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos
pelos Vereadores Valdir Fraga, Isaac Ainhorn, Lauro Hagemann, Wilton Araújo e
Adroaldo Correa e secretariados pelos Vereadores Lauro Hagemann e Wilton
Araújo. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a
presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo
Sr. Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Passaremos, a seguir ao
O
primeiro orador inscrito é o Ver. Elói Guimarães. Ausente. Ver. Ervino Besson,
que cede o seu tempo ao Ver. Cyro Martini, que está com a palavra.
O SR. CYRO MARTINI: Sr. Presidente, caros Vereadores, a minha
presença nesta tribuna hoje se faz necessária, no meu entendimento, para
aplaudir, porque não cabe a nós tão-somente criticar, repudiar, estranhar.
Também nos cabe o dever moral, político, quem sabe, de trazer o nosso aplauso,
o nosso reconhecimento.
Há
poucos dias a imprensa local registrou que foram inauguradas as oficinas de
cultura no CIEM. Como parte das comemorações da trigésima semana de Porto
Alegre, foram inauguradas ontem as oficinas de cultura no CIEM João Goulart,
uma iniciativa da Administração Popular, realizada pela Secretaria Municipal de
Cultura, Secretaria de Educação e Fundação de Educação Social e Comunitária,
Fesc, que integra o Projeto Comunidade. E por aí seguem as anotações
pertinentes à notícia. Me parece que a Secretaria da Educação do Município, se
me permitem a ironia, passou ou começou a descobrir que o processo educacional
não se faz, não se realiza tão-somente dentro das quatro paredes de uma sala
clássica de aula. O processo educacional é bem mais amplo, é bem mais
abrangente. Quando nós vimos a inauguração de oficina cultural, de oficina de
arte ou de qualquer outra providência que faculte à criança, ao jovem, no
estabelecimento de ensino, aprender algo: ofício, técnica, profissão, nós
começamos a gostar, nós começamos a externar o nosso apoio, porque quando nós
falamos em Centro Integrado de Educação Municipal, por trás das nossas
afirmações, sempre ficam ali escondidas, tácitas, a interpretação, o
entendimento de que a educação se faz tão somente dentro da atividade da sala
de aula. Esse é um equívoco, esse é um erro que o passado já deixou claro que
não pode ser cometido pelo presente e muito menos pelo futuro. A escola não
está aí apenas para informar, não está aí apenas para transmitir informações e
conhecimentos para as crianças e para os jovens, antes de tudo e sobretudo deve
ser um estabelecimento destinado à formação e à educação e o que se faz antes
de tudo e sobretudo não só começando pelo exemplo dado pelo corpo docente mas
através de atividades perante as quais possam as personalidades em formação se
desenvolver convenientemente. Então já começamos a descobrir que a criança não
precisa ficar presa à sala de aula durante o tempo em que ela estiver no estabelecimento,
ela pode, perfeitamente, estar na prática de outras atividades dentro do
estabelecimento, enquanto alguns estão na sala de aula ouvindo lições de
matemática, geografia, de história, seja a disciplina qual for, os outros
estarão no laboratório, nas práticas esportivas permitidas pela área de prática
de futebol de salão, de basquete, de vôlei ou do ginásio, e a todo o contexto
através do qual nós podemos perfeitamente dar andamento àquilo que se chama de
Educação. As nossas escolas hoje, quer públicas, quer particulares cometem um
pecado não contra o presente, nem contra o futuro, mas contra o passado. O
passado deu-nos lições que nos mostram com clareza que a Educação não consiste
nesse detalhe da informação, de transmissão de conhecimento, de saber que dois
mais dois é quatro, quem descobriu o Brasil, qual é a Capital da Irlanda, ou do
Afeganistão, ou de qualquer outro País, é bem mais ampla. Eu sempre vejo o meu
dileto, querido amigo, companheiro lá da nossa Teixeira de Freitas, Teixeira
que nós haveremos de ver, e se lembra muito bem tanto do Grupo Escolar Porto
Alegre cujo prédio original está lá na bento Gonçalves, lastimavelmente
atirado, para cair, tombar para se deteriorar não sei por que cargas d’água e
também se lembra do Colégio Santo Antônio, onde justamente as práticas de outra
ordem que não a permanência em sala de aula eram as que ganhavam relevo e
destaque justamente para habilitar a formação dos jovens. Então começamos a
descobrir, portanto, que a Educação não é só sala de aula, não é só atividades
de classe, mas é também atividade extra-classe, co-curricular ou
extra-curricular, o que permite que nós tenhamos ora crianças fora da sala de
aula, daí porque não há aquela angústia, aquela apreensão com relação
justamente a impedirmos que o CIEM tenha turno integral no que concerne à
modalidade através da qual estou colocando a minha reflexão.
O Sr. Jaques Machado: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Ver. Cyro Martini, vendo aqui as suas colocações a respeito do
ensino, principalmente por V. Exª fazer parte da Comissão de Educação desta
Casa, então foram abordados vários assuntos, inclusive extra-classe, nesse
caso. E hoje de manhã recebi no meu gabinete, na Câmara aqui, uma denúncia
sobre o ensino na Cidade e o ensino extra-classe, no caso, que é o Curso
Universitário. O Curo Universitário locou um prédio na Av. Carlos Gomes, num
prédio suntuoso, um prédio alinhadíssimo de três andares e ali faz os cursinhos
pré-vestibulares. E embaixo deste prédio foi instalada a Boate Torre Eiffel.
Agora, aqui me dirijo à Comissão de Educação da Câmara Municipal de Porto
Alegre para que faça uma consulta à SMIC para saber se existe a
compatibilidade, se pode-se ter a boate junto com o cursinho pré-vestibular.
Então a Comissão de Educação – o Ver. Dilamar Machado me socorre aqui – diz que
deve ser tirado o cursinho e a boate deve permanecer. Gostaria aqui de fazer
esta colocação e uma pergunta.
O SR. CYRO MARTINI: Com relação a colocação do nobre Vereador
Jaques Machado, a nossa Presidente da Comissão, Verª Letícia Arruda, certamente
já deve ter notado essa preocupação. De outra parte, se nós fôssemos entrar no
mérito da natureza jurídica dos cursinhos, talvez nós tivéssemos alguma
dificuldade para entender, dado que os princípios, as normas observadas com
relação às atividades de lazer ou diversões públicas observadas pelo Município
são praticamente as mesmas que nós observávamos quando tínhamos o Departamento
de Diversões Públicas, Departamento do qual tive a honra de ser diretor por
dois anos. E aí impediria, sem dúvida, a implantação de qualquer tipo de lazer,
não por se tratar de uma boate, às quais tenho também todo o respeito, porque
entendo que aquele que se dedica à atividade como boate é empresário. Eu sempre
assim os tratei e entendo que eles assim devem ser respeitados; são
empresários, empresários da noite, empresários do lazer. Agora em relação das
duas relativamente às minhas colocações com extra-classe, evidentemente não tem
pertinência, não tem colocação adequada, se me permite o Ver. Jaques Machado.
De outra parte também gostaria de assinalar que durante o transcurso da Semana
de Porto Alegre foram as crianças de várias vilas conduzidas pela Cidade em
ônibus e, com isso, aquelas crianças, muitas das quais não tinham tido ainda a
oportunidade de freqüentar outros locais puderam fazê-lo. Essa também é uma
atividade que se pode oferecer em qualquer escola, não precisa ser nos CIEMs
João Goulart, Larri Ribeiro, Villa Lobos, na Vila MAPA, ou em escolas como
Judite de Macedo, lá em cima do Morro da Cruz, Escola Municipal Nossa Srª de
Fátima, no Mato Sampaio. Eu apenas quero deixar claro que quando falamos em
atividade integral, ou seja, a criança permanecer o tempo todo na escola, pela
manhã e à tarde, isso não significa que ela deva ser escravizada, ou colocada,
pregada num banco de sala de aula, até seria um crime. A criança deve
permanecer o mínimo possível na clássica sala de aula. É por aí que eu entendo
a coisa e que eu lastimo quando vejo as escolas de hoje sem um pátio sequer para
que as crianças possam dar cambalhotas ou praticar algum outro tipo de
atividade. Se formos falar sobre escola, até o nome delas eu lastimo quando,
por exemplo, leio Escola de 1º Grau Incompleto. Ora, isso é nome que se dê para
escola? Tem que dar um nome, agora, não precisa dizer se é completo ou
incompleto. Colégio Júlio de Castilhos, por exemplo, imaginem se vou chamar de
Colégio Completo em seus 1º e 2º Graus! Eu achei de uma infelicidade essa
denominação, depois da reforma escolar produzida pela Lei de Diretrizes e
Bases, em 1970-71. Mas quero registrar também, eu que estou ali no meu comitê
na frente da INTERCAP, no Partenon, quero transmitir as minhas felicitações, o
meu abraço, por uma iniciativa, coisíssima rara no Governo Estadual,
principalmente em termos de educação, aliás as duas áreas prioritárias do
Governo Estadual que são a Educação e a Segurança, que, na verdade, pouco
recebem, mas essa nós temos que registrar, é o início das construções relativas
ao Colégio Professor Luiz Schneider, que já tem o Primeiro Grau Completo e está
se preparando também para desenvolver mais adiante o Segundo Grau. Então, é um
voto de parabéns que nós temos que registrar pela iniciativa governamental,
pois não é só de negatividade que se vive no Estado e no Município. Também há
momentos de boas providências. Muito obrigado.
(Revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Próximo orador inscrito é o Ver. Flávio
Koutzii, que transpõe seu tempo com o Ver. Gert Schinke.
O SR. GERT SCHINKE: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quero
aproveitar o Grande Expediente de hoje para falar sobre uma questão que foi
levantada desta tribuna na semana passada pelo Ver. Clóvis Brum e que toca na
questão do desleixo da Prefeitura sobre o lixo, quando citou a questão de uma
autuação que a Secretaria da Saúde empreenderia para a Prefeitura Municipal,
multando o Município sobre um lixo clandestino denunciado por um brigadiano,
etc., etc., uma novela que vai longe. Mas nós entendemos que já está resolvido,
porém eu acho que esse caso é importante levantarmos novamente porque nós temos
que deixar claro que pela primeira vez na história deste Município está se
levantando uma discussão e um plano sobre a questão do lixo de uma maneira
séria. Pela primeira vez está sendo constituída uma Comissão que vai elaborar
um plano de tratamento do lixo em Porto Alegre sob um enfoque ecológico. Isso é
inédito. Talvez em administrações anteriores nós tivéssemos presenciado uma
preocupação grande, o que não se nega, quanto à questão do lixo. No entanto,
pela primeira vez, o que nós podemos confirmar é que com uma iniciativa da
Administração Popular, o DMLU, a Secretaria de Planejamento e a SMAM já
formaram uma Comissão que vai tratar de viabilizar um Projeto de reciclagem
ampla para o lixo de Porto Alegre.
Eu
coloco isso aqui porque merece, eu acho, este fato que aconteceu e que foi
reportado pelo nobre Ver. Clóvis Brum, merece uma atenção da nossa parte
especialmente no que toca ao desleixo da Secretaria de Saúde do Estado em
relação ao lixo e à questão dos agrotóxicos na Região Metropolitana. Pois,
pasmem os Srs. Vereadores, que dias antes os jornais noticiavam nas machetes na
primeira página a denúncia feita pelo Correio do Povo do depósito de
agrotóxicos existentes em Cachoeirinha. Completamente destelhado, sem as
mínimas condições para o depósito desses agrotóxicos. Entre eles, vejam os
Senhores, os agrotóxicos à base de mercúrio, alguns deles, não todos, como:
Aldrim, Diondrim, Merpacine, que foram constatados pelo geneticista e
conselheiro da AGAPAM, o companheiro Flávio Lewgoy, que conhece perfeitamente
bem a periculosidade desses agrotóxicos.
Olha
só aqui a manchete do Correio do Povo. Isso aqui é o descaso da Secretaria de
Saúde e Meio Ambiente do Estado para com a Saúde Pública desta Cidade, porque
esses agrotóxicos que estão causando vazamentos no Rio Gravataí, confirmados
“in loco”, tanto que posteriormente se fechou esse depósito denunciado pelas
reportagens insistentes do Correio do Povo. Foi interditado, olha aqui: Saúde
interdita área com agrotóxicos. Várias reportagens feitas pelo Correio do Povo:
interdição de agrotóxico que será feita hoje etc...
Então,
todas essas matérias aqui estão confirmando o descaso que tem a Secretaria, o
Secretário Antenor Ferrari, para com a questão, que só tomou medidas depois de
feita a denúncia no jornal. E vemos aqui falar em grande proselitismo sobre o
descaso que teria a Prefeitura Municipal para com o lixo de meia dúzia de latas
de lixos que nós não desconsideramos e que, imediatamente, o nosso Secretário
Caio Lustosa foi lá “in loco”, confirmado pela reportagem, também, da Zero
Hora, olhar o lixo. Ainda não temos, isso quero deixar muito claro, um esquema
eficientemente montado de fiscalização de todo o lixo de Porto Alegre. Não
temos! Mas a SMAM se preocupou e foi lá constatar. E pasmem! A resposta do
Secretário Antenor Ferrari foi tentar autuar a SMAM por negligência. O
companheiro Caio Lustosa, Secretário do Meio Ambiente, foi lá, dois dias depois
de feita a denúncia para a Secretário do Meio Ambiente, constatar “in loco” e
tomar as primeiras providências. Ele coloca, que o Secretário Antenor Ferrari
tomou uma represália completamente injustificada e que nós viemos aqui
confirmar: não se justifica de maneira nenhuma tentar autuar a Prefeitura de
Porto Alegre, quando foi omissa a Secretaria de Saúde do Estado. Foi omissa
nesse caso, porque não atendeu ao chamado do brigadiano que foi lá e denunciou
e fez Pedido de Providências para o CIT, Centro de Informações Toxicológicas de
Saúde, e que estava sem o plantonista naquele fim-de-semana. Também foi omissa
até há dias atrás nesta questão gravíssima que atinge toda a região
Metropolitana que é esse depósito de agrotóxico, aqui, às barbas da população
de Porto Alegre. Foi omisso, e nós temos que dizer a verdade então e não vir
aqui na tribuna e denunciar irresponsavelmente a Prefeitura de estar sendo
desleixada com o lixo de Porto Alegre. Isso não confere com a verdade.
O Sr. Vieira da Cunha: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Só gostaria que V. Exª fizesse justiça com este seu colega. Tive a
honra de dirigir o DMLU por 1 ano e 11 meses, e uma das prioridades, quando
exerci a direção daquela autarquia, foi exatamente a questão do
reaproveitamento do lixo. E deixei lá um projeto, aprovado pelo BNDES, aprovado
por esta Casa, e discutido com as mais representativas entidades do movimento
ecológico da nossa sociedade, e provado por elas nessas discussões. O
coordenador desse projeto, V. Exª conhece, Eng. Agrônomo Jacques Saldanha,
respeitado nos meios da engenharia do Estado. Inclusive as bases desse projeto
foram discutidas com nosso ecologista, aceito em todo o país, José
Lutzenberger. Só gostaria que não se fizesse injustiça de dizer que apenas
agora se pensa num projeto sério em termos de reaproveitamento do lixo em Porto
Alegre, porque não é verdade.
O SR. GERT SCHINKE: Digo que na minha falação lembrei que nas
gestões anteriores houve uma preocupação de fato, e até confirmo que ela tenha
sido séria. No entanto, o que quero ressaltar aqui, é que pela primeira vez se
vai tomar as atitudes práticas para tratar todo o lixo de Porto Alegre, a
partir, inclusive, da contribuição dada pelo nobre Vereador na sua gestão no
DMLU, e que reconheço foi muito importante. Concordo com o esclarecimento que o
Vereador faz. No entanto, quero ressaltar que nós pela primeira vez, com Jaques
Saldanha no DMLU, está com carta branca para implementar esse projeto de
reciclagem e tratamento do lixo em Porto Alegre. Isso para nós é um dado que
tem uma qualidade maior, é extremamente importante, e, inclusive, remete a uma
discussão que temos e confirmamos a nossa intenção de fazê-la ao aprovar
requerimento do nobre Vereador João Dib sobre uma comissão Especial que vai
estudar a questão do lixo nesta Casa e dizemos que é importante.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Só para lembrar a V. Exª que, quando citou que foi feita uma
denúncia irresponsável desta tribuna, não foi denúncia, quem falou fui eu. Acho
que irresponsável seria no caso a Zero Hora, porque eu somente li a entrevista
dada pelo Dr. Antenor Ferrari, ou do próprio jornal que noticiou mal.
O SR. GERT SCHINKE: Até pode ter sido, mas eu não me refira
ao senhor. Eu acho que o método de apresentar as coisas aqui na tribuna não
deve se pautar, unicamente, pelas notícias dos jornais.
Eu
quero concluir minha falação do Grande Expediente, levantando a questão que nós
vamos discutir nos próximos dias, aqui, que é um Projeto de Lei encaminhado
pelo ilustre Ver. Clóvis Brum, que trata da disciplina, da regulamentação de
algumas questões do transporte escolar.
Quero
introduzir essa questão, porque nessa questão posso falar de cátedra, porque
durante 7 anos fui transportador escolar nesta Cidade, e conheço esse assunto a
partir de uma vivência prática da própria profissão. Eu acho que esse Projeto
de Lei é extremamente importante, porque em certa medida tem uma incidência
social e no que trata, no que toca à educação do nosso Município muito grande.
Nós sabemos que os transportadores do nosso Município transportam cerca de 5
mil alunos, e sabemos, também, que grande parte desses 5 mil alunos não são da
classe alta, não são filhos da burguesia, que eles têm condições de ter um
transporte acessível, em condições de serem transportados para seus colégio.
Portanto, a partir desse ponto de vista, o transporte nesta Cidade, ele tem um
caráter social que garante e possibilita o acesso de crianças às aulas, uma vez
que seus pais não têm condições práticas de levá-los aos colégios.
Então,
nesse sentido é importante que se regulamente essa Lei, uma vez que antes, nas
administrações anteriores, isso não havia, havia apenas um compromisso verbal
entre a Secretaria Municipal dos Transportes e a UTEPA, a qual eu inclusive
ajudei a fundar. Nesse sentido eu considero que a aprovação desta Lei, por esta
Casa, ela legaliza uma questão que não estava legal, mas que só se mantinha por
acordo de cavalheiros e que, todos os anos, dava nesta complicação e remetia a
um novo acordo que tinha que ser feito, anualmente, com a Secretaria Municipal
dos Transportes, no que toca ao problema tarifário, ao problema de lotação, de
vida útil dos veículos. Neste sentido, queremos dizer que é importante a
apreciação e discussão desse Projeto do transporte escolar para o qual eu pedi
urgência, com base no artigo 44, para que, de uma vez por todas, se dê fim a
essa novela que já criou algumas polêmicas aqui no início do ano letivo e que
movimentou, da nossa parte, algumas demandas junto a UTEPA, União dos
Transportadores, junto à SMT e também em diálogos com o Ver. Clóvis Brum.
Então, nesse sentido, acho que temos que dar uma olhada séria, nos próximos
dias, nesse Projeto de Lei apresentado pelo Ver. Clóvis Brum. Aproveito para
esclarecer que esse Projeto de Lei terá o apoio da Bancada do PT para sua aprovação.
Para
encerrar, Sr. Presidente, a minha comunicação, quero apenas alertar a todos os
presentes que, na quinta-feira, vai se realizar aqui, neste recinto, às 17
horas, uma Sessão Solene em homenagem ao Dia Nacional da Saúde e que contará
com a presença do titular da Secretaria de Saúde do Estado, do Diretor do HPS e
da Secretária de Saúde do Município, para esclarecer a problemática do Hospital
de Pronto-Socorro desta Cidade. Todos estão convidados, porque, a partir da
Sessão Solene, vai-se dar aqui um debate sobre a questão do HPS. Muito
obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Wilton Araújo): O próximo orador inscrito, em Grande
Expediente, é o Ver. Flávio Koutzii.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu
gostaria de aproveitar a possibilidade do uso do Grande Expediente para me
manifestar a respeito de um tema mais geral, mas que determina muito o que
fazemos aqui quotidianamente, o que é de certa forma o tema da conjuntura
política em que vivemos e as suas conseqüências a nível da disputa
Presidencial.
Eu
acho importante destacar, e é claro que algumas afirmações que penso fazer são
polêmicas na medida em que divergem do entendimento político, da própria razão
de ser de vários partidos aqui representados, mas não sei se é ingenuidade
pretender que é útil em certos momentos nesta Casa estabelecer com clareza as
referências políticas pelas quais cada um de nós luta dia-a-dia, porque é tal,
às vezes, o apequenamento das questões que são debatidas e a adaptação extremamente
elástica dos argumentos ao calor do debate específico que fica-se sem saber
exatamente o que é que nós estamos fazendo aqui e pelo o que estamos lutando
aqui. É muito fácil esquecer, na instância Municipal, as razões da luta
política que cada um desenvolve e que tem tudo a ver com os destinos deste
País. Portanto, algumas considerações não vão tanto para buscar polêmica a
tempo para intervir em sentido contrário, se os Srs. Vereadores assim julgarem
necessário, mas é para explicar melhor o nosso pensamento sobre as
circunstâncias que vemos neste momento. Este momento marcado pela presença da
imprensa ontem, Folha de São Paulo, e hoje, Correio do Povo, os resultados,
talvez, da primeira pesquisa mais sólida nas 10 principais Capitais deste País
sobre a preferência de voto e a verificação que, nela, Brizola e Lula
praticamente estão a nível de um empate técnico.
Recordar,
também, que o que talvez oportuniza esta intervenção é o fato extraordinário,
revelador, que certamente não passou indiferente à percepção dos Vereadores de
que a Rede Globo apelou confrangida e preocupada a que o centro deste País, a
direita deste País pare de vacilar e se organize. Este foi o editorial do
Jornal O Globo reproduzido no Jornal Nacional, às 20 horas. É preciso estar
muito alarmado para se atrever a despir aquela veste normal, própria, que tenta
passar por interesses globais da comunidade o que são interesses setoriais e de
classe, e abandonar, entre aspas, a neutralidade e a apreciação equilibrada da
realidade de um País. A Rede Globo apelou a que o PMDB e o PFL dêem um jeito,
senão, desse jeito, ou ganha Brizola ou ganha Lula. É evidente, e estou
convencidíssimo disso, que não se trata de uma visão impressionista,
conjuntural. Certamente a dinâmica eleitoral que vem pela frente vai alterar
muitos dos dados dessa pesquisa, questões que acontecerão, muito importantes.
Mas há dados, alicerces fundamentais da nova situação, que parece que não estão
atentamente percebidos por todos. O resultado claro das eleições de novembro
foi o colapso provisório – digo bem, provisório das representações da direita
neste País. Não que elas deixassem de existir, não que esses partidos tenham
perdido completamente a força, mas perderam, momentaneamente, a capacidade de
disputar, politicamente, a Presidência. É um fato. O desgaste formidável do
Governo Sarney se agrega, evidentemente, a esse nível de situação. Mas,
sobretudo, talvez o fato fundamental e novo da política brasileira é que o
centro – não o centrão propriamente dito – foi explodido com o resultado das
eleições. E, pela primeira vez, na história deste País, a noção de esquerda e
de direita...(Pausa.) Solicito aos Vers. Artur Zanella e Clóvis Brum que falem
um pouco mais baixo. Perdoem a impertinência. Eu dizia que o fato novo,
independente de cor política, mas insofismável na nova realidade política, é
que este País, no qual dezenas de ensaístas trataram até de teorizar a noção
permanente da conciliação, vulgarmente trazida à baila, inclusive por alguns
políticos, como a índole do ser brasileiro, pacífico, passivo e obediente,
incapaz de revolta, o que, evidentemente, é uma caracterização falsa, e a
história se encarregará de mostrar que não é assim. Mas, no nível da política,
é a primeira vez, neste País, onde a noção de direita e de esquerda está mais
nitidamente constituída, com atores sociais claros e irretorquíveis. E é um
fenômeno extraordinário, independente das diferenças que nos separam – e não
são poucas – ver que um candidato de origem operária, e isso não me interessa
pelo lado caricatural, nem folclórico, mas pelo fato de que um quadro, que
emergiu das lutas sindicais, adquiriu estofo intelectual, político e densidade
de seu próprio partido, para ser hoje um dos favoritos à corrida pelas
presidenciais. O seu partido e a sua candidatura. E que alternativa mais forte
é a que responde ao projeto do PDT, ao projeto do populismo, ao projeto que nós
diríamos, no mínimo, de centro-esquerda? É, portanto, do centro para esquerda,
neste País, que se debatem, hoje, os destinos do processo que vamos ter pela
frente. E é exatamente por isso e é em nome disso e às vezes do uso abusivo da
noção de socialismo e da noção de socialismo e da noção de esquerda, que eu
intervenho, no dia de hoje, primeiro sublinhando a importância desse fato,
segundo destacando uma questão central que separa, aí claramente, o PT do PDT.
É que, por mais gênio político que tenha este ou aquele líder, por mais
argúcia, experiência e sentido da tática, há uma coisa em política que é
incontrolável: não se fazem alianças sem que estas alianças determinem, depois,
o curso concreto do governo que, apoiado nelas, eventualmente for eleito. O
aspecto de alianças que o PDT começa a construir, de forma extremamente nítida,
e que vai se apoiar agora, por razões eleitorais muito compreensíveis, mas por
razões políticas que devem ser avaliadas, que é tentar obter, em São Paulo, o
concurso do líder e do inspirador do sindicalismo de resultado, o Medeiros,
reflete bem e é um indício formidável de quem está se agrupando em torno de
cada uma dessas propostas que disputam o campo entre o centro e a esquerda. É
claro que não é verdade que Brizola é sabido e todos os outros são otários. As
forças políticas que a ele se unem na verdade estão expressando – este é o
nosso entendimento – um reflexo de classe, um reflexo angustiado da falta de
alternativas que a direita viu configurada neste País, porque não há mágicas
nestas questões, o que parece cada vez mais nítida é a necessidade de a
candidatura de Brizola se construir principalmente no primeiro turno que é o
que decide, combatendo o PT, combatendo a força que está a sua esquerda. Este
fato que é o politicamente visível em todas as questões e que se acentua e
multiplica na ofensiva contra a igreja, na ofensiva contra a nossa presença nos
sindicatos, ela tem uma lógica. Ela pode ser entendida, tem que ser entendida,
se aprecia-se o movimento político de uma outra força, é o caso do PDT, como
uma lógica e uma busca de aglutinação. Perfeito, isso aí nós entendemos. Mas o
que nós colocamos é que essa legítima tentativa de acumular forças em busca da
vitória, ela tem um preço e um espectro político que se define cada vez mais.
Eu digo – sem objetivo de provocação, mas até mesmo para registrar isso – que o
futuro é muito imediato e nos aguarda ali na volta da esquina e nós nos
encontraremos nesta campanha e após o resultado dela para debater os destinos
deste País e interferir nele. Eu digo e digo com pesar que a constituição de
alianças constituída pelo PDT se amarra cada vez mais numa série de compromissos
com a direita deste País, ela que está impotente de construir um candidato
próprio, e tem que escolher, para viabilizar uma alternativa, entre Brizola e
Lula. Como o Lula, evidentemente é inaceitável pela fidelidade programática que
o mantém, nós estamos frente a um fenômeno que de fato não é surpreendente na
política, da agregação crescente dessas forças.
O Sr. Vieira da Cunha: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Eu só gostaria de lembrar ao Vereador que o próprio Partido dos
Trabalhadores para conquistar a Prefeitura de Porto Alegre fez uma aliança,
aqui, com o PSDB, de natureza nitidamente social democrata e não é por isso que
o Sr. Olívio Dutra negou a sua postura socialista. O próprio Governador
Brizola, já que nós estamos falando no PDT e a crítica de V. Exª é referente ao
nosso Partido, quando se elegeu Governador do Estado, fez uma aliança, V. Exª
historicamente sabe disso, com um Partido de direita, o PRP de então, que era
nitidamente integralista.
Então,
com esses exemplos históricos, um mais afastado e outro recente, um do meu
partido e outro do partido de V. Exª quero dizer o seguinte: que nem sempre
quando se faz alianças e no nosso caso não vai ser assim, se vai renegar os
seus princípios e o Governador Brizola pode receber apoios de pessoas de centro
ou de direita, a histórias já diz e o povo sabe qual é a sua postura e dela não
se afastará, que é a de uma esquerda conseqüente. É este o sentido do aparte.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Obrigado, Vereador. Entendo bem as
referências que agrega à intervenção. Evidentemente, se contrapõem à minha
linha de raciocínio, mas eu a mantenho no sentido de que entendo exatamente
essa foi a moldura que eu tentei construir no meu raciocínio de que se trata de
uma situação singular na história deste País, quer dizer, não foi para ir
encaminhando o meu discurso que eu disse pela primeira vez a direita na disputa
eleitoral não tem o candidato que possa representá-la diretamente. É um fato
fundamental. Segundo, que a partir das eleições tem polarização de esquerda e
de direita como nunca aconteceu antes, é uma novidade na história deste País. E
em terceiro lugar, exatamente o terceiro elemento que compõe a situação, no meu
entendimento é que há uma alternativa de centro-esquerda e de esquerda e é
entre ela que se dá a alternativa e que a dinâmica que está colocada leva ao
que no meu entendimento é a expressão de centro-esquerda que é o PDT, a buscar
uma aliança, um leque de alianças que na verdade além das coisas proclamatórias
ao nível da política representam compromissos sérios e sinceros. Uma coisa é
fazer uma aliança pontual, local e regional, como força altamente majoritária,
como fizemos aqui com o PSDB, que na verdade nos seguiu frente a sua grande
dificuldade de ter um projeto próprio naquele momento e um acordo que
provavelmente se esboça neste momento sobretudo o seguinte: a linguagem da
campanha, a escolha dos temas táticos, quer dizer, isso me parece uma questão
fundamental, porque geralmente o compromisso dos Governantes saídos de uma
eleição se dá em cima das bandeiras que eles identificaram e o Vereador sabe
que eu vivi sete anos na Argentina e a experiência do peronismo é uma questão
muito elaborada por mim, pela vivência direta que tive, acho que há – e esta é
uma previsão que me arrisco a fazer ao terminar a minha intervenção, uma das
coisas que mais me inquietam, Sr. Presidente é que a seguir este caminho, e se
Brizola vencer, há uma importante possibilidade de que assim seja, eu prevejo a
possibilidade de que ele governe, fundamentalmente, golpeando a sua esquerda,
quer dizer, acumulação produzida pelo PT e pela CUT. Ficarei formidavelmente
satisfeito se a prática mostrar que não é assim. Assumo a responsabilidade
quase um ano antes de fazer essa previsão. Muito obrigado.
(Revisto
pelo orador.)
O SR. ARTUR ZANELLA (Requerimento): Sr. Presidente, de acordo com o pedido
que eu havia feito ao Sr. Presidente Valdir Fraga, solicito a cedência de 5
minutos para a apresentação de um fato considerado relevante, que são os
resultados do Congresso da UVERGS em Santa Maria. Mas eu falaria somente 5
minutos sobre esse Congresso, o que já havia sido concedido pelo Sr. Presidente
Valdir Fraga.
O SR. PRESIDENTE: Como participante, e sabendo da
relevância do assunto, a Presidência defere a V. Exª.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu faço
esta comunicação, não em Comunicação de Líder, para que possa haver até algum
aparte se for assim necessário. Mas a UVERGS realizou o seu Congresso em Santa
Maria, um Congresso que unificou uma entidade destroçada o ano passado e com a
adesão vamos dizer assim do PMDB, que no ano passado havia entrado na Justiça,
foram realizadas então eleições e o ingresso do PMDB transformando a entidade
em pluripartidária. Mas, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a importância desse
evento não foi somente por isso. E isso é importante. O importante, e isso me
traz à tribuna, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, é que lá foi reativada uma
comissão para tratar dos assuntos referentes à Constituição Estadual. E o prazo
para a apresentação de Emendas à Constituição Estadual termina no dia 09. A
UVERGS, ao constituir essa Comissão de 9 elementos, 9 Vereadores no ano
passado, teve o seu trabalho destruído, porque dos 9 Vereadores, somente dois
se reelegeram. E o relator dessa Comissão não se reelegeu. E já estão de posse,
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, da proposição dos Municípios, dos Prefeitos,
está aqui em minhas mãos, vou passar à Presidência da Casa depois para que se
multiplique isso em xerox. As proposições dos Prefeitos que estão mais
estruturados, quer dizer, melhor organizados que os Vereadores, retiram dos
Vereadores uma série de direitos, inclusive, por exemplo, fixando a concessão
de licença para o Prefeito afastar-se do Município e do Estado por prazo
superior a 15 dias somente. Libera o Prefeito até 15 dias para viajar sem
prestar contas e sem pedir autorização da Câmara de Vereadores. Fala que a
Câmara vai deliberar sobre a concessão, etc., de terrenos, etc, mas não fala na
cessão de uso que é o instrumento mais utilizado pelos Prefeitos na cedência de
bens municipais. Mais ainda: tira da Câmara Municipal a possibilidade de sua
auto-convocação, deixando-a somente para os Prefeitos. E, finalmente, na
análise rápida que fiz desse documento, tira dos Vereadores a iniciativa de
leis orçamentárias, financeiras ou que criem ou aumentem a despesa pública.
Quer dizer, nós além de não podermos mais aumentar a despesa pública, não
podemos nem transferir recursos de um lado para outro, porque cria, nesse caso,
despesa pública. Também foi discutido o trabalho feito pela METROPLAN numa
análise muito rápida, muito perfunctória, por seus dois artigos, um muito
singelo e inocente. Diz o seguinte: “Poderão ser instituídos órgãos ou
entidades de apoio técnico e de âmbito regional para organizar, planejar e
executar integradamente as funções públicas de interesse comum”. Não é muito; é
muito inocente isso aí. Mas no Parágrafo Único diz que essas entidades que
poderão ser criadas, elas exercerão a concessão, a permissão, a autorização, o
licenciamento e a fiscalização das atividades decorrentes das funções públicas
de interesse comum. Isso significa que sendo o abastecimento de água de
interesse metropolitano, poderá esta empresa, de acordo com esta legislação,
absorver tranqüilamente o DMAE. Como a fiscalização dos ônibus intermunicipais
é feita pela SMT, está aqui uma forma de o Estado ingressar nos serviços
municipais também. Isso também vale para lixo e para uma série de coisas,
criando uma entidade supramunicipal, que não está prevista na Constituição do
Estado. E mais ainda: (Lê.) “A Lei instituirá um mecanismo de compensação
financeira para os municípios que por atribuições e funções decorrentes do
planejamento da Região Metropolitana sofrerem diminuição ou perda de receita.”
Isso poderá fazer com que Porto Alegre tenha que distribuir recursos para
outros Municípios ou, quem sabe até o contrário, outros municípios repassarem
recursos a Porto Alegre. Mais ainda: (Lê.) “Os planos diretores, obrigatórios
para cidades com população acima de 20 mil habitantes deverão adequar-se às
diretrizes definidas pelo planejamento do desenvolvimento regional.” Essa aqui
é a criação do chamado 4º Poder, acima do Poder Municipal. Então, o que eu
proponho – estou encaminhando um Requerimento – é que a comissão desta Casa
seja reativada com a presença de todas as Bancadas. E mais ainda, Sr.
Presidente e Srs. Líderes que me ouvem, eu sugiro que, nesta semana, os Grandes
Expedientes que ainda não foram marcados, as Comunicações, as Discussões de
Projetos que não foram inadiáveis, sejam transferidos para outras semanas para
que nós possamos examinar essas questões da Constituição do Estado cujo prazo
encerra-se no dia 9 para apresentação de emendas. Então, Sr. Presidente, o
Requerimento será apresentado à Mesa, mas eu fiz questão de antes explicar às
Lideranças do que estava se tratando, afinal. Para encerrar, Sr. Presidente,
dentre esses cargos que foram renovados em Santa Maria, se convencionou que um
Vereador de Porto Alegre deveria exercer uma das presidências da UVERGS, eis
que todos os Vice-Presidentes são do interior, assim como o é o Presidente e
como um dos cargos cabia ao PFL, em acordo com o PMDB, e a troca do cargo e em
acordo geral eu fui indicado e eleito como Vice-Presidente da UVERGS para completar
esse mandato até novembro, representando a Região Metropolitana.
O Sr. Cyro Martini: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) A explanação do jovem Vereador foi bastante clara, eu perguntaria
se não caberia, em face do tempo disponível, que a Mesa constituísse uma
Comissão para cuidar de perto desses problemas, porque a mim me preocupa porque
quanto mais eu leio a Constituição Federal mais eu vejo limitado o Poder
Legislativo de uma lado e até o Município de outro, embora o erário municipal tenha
sido beneficiado. Entretanto, me parece que o Poder Legislativo e especialmente
as Câmaras Municipais não foram majoradas, e alguns aspectos foram reduzidos.
O SR. ARTUR ZANELLA: Vereador, essa Comissão já existia na
legislação anterior e no Requerimento se pede a reativação da mesma, mas pela
habilidade, agilidade do Sr. Presidente da Casa, neste momento já circula o
processo com a concordância daqueles Vereadores que são indicados, visto que é
uma Comissão Externa. Eu só peço ao Sr. Presidente que indique de todas as
Bancadas para que não haja discriminação. Inclusive, na questão funcional e
administrativa dos Senhores Vereadores que têm cargos públicos é muito
importante que se definam na Constituição Estadual certos direitos, certas
condições, porque dos atuais Deputados 28 são ex-Prefeitos, na sua maioria, e
me parece que se tiverem que optar entre um trabalho bem feito dos Prefeitos e
um trabalho mal feito dos Vereadores, creio eu que optarão a favor dos Senhores
Prefeitos em detrimento dos Senhores Vereadores. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Srs. Vereadores, nós já tínhamos o nosso
funcionário, Dr. Vitor, da Administração, acompanhando na Assembléia, graças ao
Ver. Artur Zanella que, há dias, vem conversando conosco, nós estamos, aqui,
renovando a Comissão Externa, tendo em vista que ela foi instalada em 10 de
novembro de 1987, por solicitação do Ver. Rafael Santos, o Processo é 143. A
Mesa indicou os nomes dos seguintes Vereadores: Wilton Araújo, Isaac Ainhorn,
Elói Guimarães, Flávio Koutzii, Adroaldo Corrêa, Vicente Dutra, Artur Zanella,
Wilson Santos, Luiz Braz, Clóvis Brum, Omar Ferri e Lauro Hagemann. Estes são
os componentes da Comissão Externa. No momento em que encerrarem essas
alterações da Constituinte na Assembléia, nós transformamos essa Comissão numa
Comissão Especial.
Então,
convocamos os Srs. Vereadores para amanhã, tendo em vista a urgência desse
acompanhamento, que é necessário, amanhã de manhã, às 10h, para esses
Vereadores se reunirem no Salão Nobre, para que seja indicado o Presidente e o
Relator da Comissão.
O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PMDB. A palavra com o
Ver. Clóvis Brum.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, eu sou
municipalista por excelência, então, sempre que possível, meu debate vai ser em
torno dos problemas da minha Cidade. Estou, realmente, preocupado com a
sucessão presidencial até porque o PT tem um só candidato, já lançou seu
candidato; o PDT também só tem um e já lançou o seu candidato. Agora, o PMDB a
coisa é diferente, tem muitos candidatos. Vão ter dificuldades nessa escolha,
retirando o Lula, quem concorre pelo PT de sã consciência? Não tem. A não ser
que o Ver. Adroaldo aceite este encargo. E retirando o Dr. Brizola no PDT,
também não tem candidatos. Quer dizer, a coisa é difícil. São partidos assim
relativamente pequenos e pobres de lideranças nacionais. Vamos ser honestos.
Nenhum desprestigiamento ao nome dos ilustres candidatos, Dr. Leonel Brizola e
Dep. Lula, mas retirando os dois o PDT não concorre e nem o PT. Então é
difícil. Agora o PMDB tem uma série de candidatos, é o Governador Miguel
Arraes, tem o Governador Pedro Simon, têm vários candidatos a Governador do
Estado. Agora vocês vão querer colocar quem? Dê sã consciência, se o Dr. Brizola
não aceitasse concorrer pelo PDT, fechava o partido. E, lembrem aos mais
antigos, lembrem por favor que essa história de Partido de Líder único é muito
ruim. Faleceu o Deputado Fernando Ferrari e terminou o MTR. Vinha bem, vinha
bonito, uma boa votação fez o candidato à Vice-Presidência.
Mas,
imaginem, que Deus o livre, que o Dr. Brizola venha a adoecer! Não. Imaginem se
o Dr. Lula, numa dessas viagens para o exterior aí, adoece, tem uma febre, ou
uma coisa ou outra, terminou. Então vamos terminar com essa história de dizer
que o negócio é bá, bá, bá. Terminou. Só tem Lula no PT e Brizola no PDT.
Agora,
eu não quero dizer que no PMDB estejam os melhores candidatos, absolutamente.
Absolutamente. Acho que realmente nó precisamos, nesta busca do PMDB, de um candidato
capaz de viabilizar um sinal de vitória. As coisas não estão bem para o nosso
lado. Não estão bem. É difícil. Tem muita gente de direita no Partido? Tem, ou
estão achando que o PT não tem a direita dele? Que história é essa? O PT também
tem a direita dele.
Diz
o Ver. Zanella, numa expressão, pensando em voz alta, que ontem elegeram um,
não sei quem é. Mas, de qualquer maneira, Sr. Presidente, só para deixar claro
que o PMDB prepara o seu candidato. O PMDB deve apresentar o seu candidato à
convenção nacional e aí vai ganhar aquele em quem o povo confiar mais, aquele
que tiver uma proposta mais transparente.
Mas
quero chamar a atenção do Ver. Gert Schinke: não fale muito, na campanha até
dava para fazer um pouco de promessa, a gente não conhecia muito o PT, tal. A
população também estava vendo quem era o Dr. Olívio.
Mas
aqui da tribuna não dá pra fazer muita promessa. Essa história de dizer: nós
vamos acertar o lixo porque é a primeira vez... Cuidado, calma, porque senão
daqui a seis meses estão pedindo desculpas, foi engano, não era bem isso o que
queríamos dizer. Não é assim.
E
acho que se andar mal a Secretaria da Saúde do Estado, recebo a crítica do Ver.
Gert Schinke com muita alegria, pode ter certeza V. Exª que até o final da
tarde vou fazer um contato com o Secretário da Saúde para levar as suas
angústias, as suas preocupações em torno dos problemas que a Secretaria vem
descuidando.
Mas,
com relação à Secretaria Municipal do Meio ambiente, ela tem que parar de ser
multada. Não pode mais, fica muito feio. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PDS, Ver. João Dib.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, na
semana passada, formulei uma Questão de Ordem para a qual pedi extrema
urgência. Era para que a Comissão de Justiça informasse da aplicação
obrigatória da Lei Complementar nº 186, que estipula a bimestralidade no
Município e que, no meu entendimento, é auto-aplicável.
Claro
que depois de formulada a Questão de Ordem tratei de perguntar a juristas, que
entendem mais do que eu, este pobre engenheiro, e eles me confortam dizendo que
a lei é auto-aplicável.
Ouvi
o debate, hoje, e o Secretário da Fazenda e o Secretário da Administração
colocam dúvidas.
Mas,
também, a dúvida era colocada pela falta de recursos, com a qual, ainda que eu
tenha toda a atenção com o que disse o Sr. Secretário da Fazenda não concordo.
E não concordo por uma razão muito simples: ser Prefeito eu cansei de dizer que
era administrar a escassez, porque ser Prefeito com todos os recursos é para
qualquer um, qualquer um pode ser, agora não tendo recursos à mão,
imediatamente, é um pouco mais difícil. Lembro que no dia 11 de abril, primeiro
dia de expediente meu como Prefeito, chamei o Secretário da Fazenda e o
Secretário do Planejamento, e fiz a seguinte pergunta: quanto foi arrecadado de
ICM em janeiro, fevereiro e março de 82? Trezentos e cinqüenta milhões, senão
estou equivocado. Quanto foi arrecadado em janeiro, fevereiro e março de 1983?
Mais ou menos a mesma importância. O que daria para sustentar qualquer
Prefeito. Mas, conhecendo a Prefeitura, conhecendo os seus servidores,
conhecendo as possibilidades do povo porto-alegrense, fiquei tranqüilo, mas era
para ficar intranqüilo. Principalmente, porque se passava de uma inflação que não
chegava a 100% para uma inflação que chegou a 211%. E agora, hoje, eu fiz uma
pergunta para saber quanto foi arrecadado de ICM em janeiro, fevereiro e março
de1988, e o Secretário da Fazenda informou quanto foi arrecadado em janeiro,
fevereiro e março de 1989. E a diferença, pasmem os senhores, para aquele
Orçamento de ficção, como foi chamado reiterada vezes pelo Secretário, é de
1040%. No ano passado, nos três primeiros meses do ano se arrecadou 650 mil
cruzados. E eu gostaria de chamar a atenção dos Srs. Vereadores de que o ICM, e
o Ver. Airto Ferronato poderá dizer sim ou não, cresce mensalmente, com exceção
de agosto e setembro quando ele decresce levemente, e aí começa a subir outra
vez para sustar a cifra no mês de dezembro.
Portanto, nós não estamos administrando a escassez de forma a assustar. A Prefeitura tem recursos hoje que não tinha ontem, como ITBI, que ao invés de 2% passou para 3%, o IVVC, passa a trazer Receita direta e imediata para o Município, claro que a partir de 15, 16 de março, mas já no mês de abril entra dinheiro. O próprio Secretário da Fazenda calculava, aqui, conosco, que cerca de 700 a 800 mil cruzados mensais deve render o ITBI, bastante mais do que está previsto no orçamento. O ICM, neste orçamento fictício se prevê uma arrecadação a mais de 400%. Nós verificamos que nos três primeiros meses arrecadamos a mais 1040%. O orçamento foi elaborado, é claro, em setembro do ano passado e não se esperava uma inflação de 950%, que foi o que ocorreu. E as reações das arrecadações estão em razão do que está acontecendo com a inflação. Só de IPVA, no mês de março, se arrecada mais do que todo o ano de 1988, portanto, os 40,36 que devem ser dados no reajuste, conforme a Lei 186 podem e devem ser dados pelo Município, sob pena e risco de estarmos sendo muito mal administrados. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Artur Zanella.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, soube
que hoje continuou o depoimento do Sr. Secretário da Fazenda, mas eu não vim.
Não vim, Sr. Presidente, porque estou esperando da Secretaria da Fazenda, desde
o dia 14 de março, as informações solicitadas sobre a arrecadação municipal e
os gastos feitos em janeiro. Já nem quero mais fevereiro e março. Quero, ao menos,
janeiro. Então, Sr. Presidente, lembro a V. Exª e ao dileto Secretário desta
Mesa, que faz parte da Frente Popular, que existe uma Lei Orgânica e no
Regimento Interno desta Casa prazos para o Sr. Prefeito Municipal atender, para
o Sr. Verle atender. Não é somente um, Sr. Presidente, são quatro Pedidos de
Informação cujo prazo já se esgotou, inclusive um da malfadada intervenção e a
presença dos nossos queridos amigos paulistas aqui no Rio Grande do Sul. Já vai
quase um mês de atraso e o Dr. Tarso Genro, que é o encarregado de encaminhar
para cá esses Pedidos de Informações, ouviu o Pedido, estava aqui dando seu
apoio moral ao Dr. Verle, e deve ter ouvido. E, como há uma lenda de que o Dr.
Tarso Genro tem alguma influência na Prefeitura, eu gostaria, por favor, que a
Casa diligenciasse com o Dr. Tarso Genro, já que com o Sr. Prefeito e o Dr.
Verle é impossível o recebimento desse Pedido de Informações.
Pedido
de Informação que estou encaminhando outro, agora, para saber se foram pagos os
30% que a Constituição deu aos funcionários quando entram em férias. O Estado
está pagando, a União está pagando, e eu pergunto se o Município pagou esses
30%.
Mas,
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu vim aqui por outro motivo, o Ver. Clóvis
Brum, há poucos minutos, dizia que o Dr. Caio Lustosa tinha que parar de ser
multado. O Ver. Koutzii há poucos dias falava que havia sabotadores no
Município. E eu creio ter descoberto um, Ver. Clóvis Brum. É o Ver. Antonio
Hohlfeldt que fecha a Avenida todas as vezes em que não pode fechar, que mantém
a Avenida fechada quando tem trânsito e não tem pessoas, como responsável – e
não me venham dizer depois que não sabem quem abriu – pela Secretaria Municipal
de Transportes e pela Comissão que define o trânsito de Porto Alegre. Na rústica
em homenagem ao Internacional, abriu a Avenida. Fecha quando não tinha que
fechar. Chuva, não tem nenhuma pessoa passeando, se fazem “shows” para juntar
gente, patrocinados pela Riocell, a antiga Borregard, mas na hora em que se faz
uma homenagem ao Esporte Clube Internacional, aí, a Avenida, como um passe de
mágica, se abre, e os corredores se misturam com caminhões, com carros,
exatamente na hora. Então, entre os sabotadores que eu posso imaginar, eu
indico um, o Ver. Antonio Hohlfeldt, que fecha as avenidas quando não tem que
fechar, e abre quando não tem que abrir, levando o perigo para todas as pessoas
que lá estavam. Finalmente, para evitar qualquer tipo de problema, e como hoje,
provavelmente, não chegaremos na Pauta, eu chamo a atenção e peço à Presidência
que devolva o Processo nº 697 para a Auditoria desta Casa, que é outro Processo
bem tranqüilo, inocente! Foi feita uma nova medição lá do Parque Maurício
Sirotsky Sobrinho, Parque da Harmonia, e se constatou que os limites fixados
através de Lei não correspondem com os requisitos oficiais da Prefeitura
Municipal. Então veio o Projeto aqui, para retificar o Parque da Harmonia. Não
há problema nenhum! Ocorre que a área que eles estão colocando, agora, dentro
do Parque Harmonia já foi cedida, já foi feita uma cessão de uso aprovada por
esta Casa para a ADVB, Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil. Então, é
uma forma muito sutil, muito inteligente. Para não brigar com a ADVB e seus
2.200 sócios, para impedir o centro cultural da ADVB, se alteram os limites do
Parque.
Então,
solicito a V. Exª, Sr. Presidente, que encaminhe, novamente, à Assessoria
Técnica da Casa, para identificar se nesta área aqui colocada já não existe uma
Lei cedendo esta área para a ADVB, aprovada por esta Casa, com Projeto aprovado
pela SMOV, etc., etc. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PTB. Ver. Luiz Braz.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quero
chamar a atenção dos Srs. Vereadores, de todas as Lideranças desta Casa, para o
que os dois Secretários, o da Fazenda e o da Administração, disseram hoje, no
final da manhã da reunião aqui neste Plenário. O Dr. João Verle e o Dr.
Buchabqui disseram para o Secretário e para os Vereadores que nós vamos fazer
novas reuniões, nós vamos tratar novamente do assunto muitas outras vezes –
Orçamento Municipal. Isso para que possamos chegar à proposta ideal de aumento
do funcionalismo público, que deveria, esta proposta, ser regida pela Lei
Municipal votada aqui nesta Casa. A Lei Municipal diz que os aumentos devem ser
bimestrais e esses aumentos bimestrais devem-se cingir à inflação dos dois
meses anteriores. Acontece que, enquanto os dois Secretários, com muita
habilidade, vão conseguindo transferir, de mês a mês, essa proposta para aumento
do funcionalismo, os nossos funcionários vão sendo estrangulados, porque essa
perda que os funcionários estão tendo em seus salários ela não vai ser resposta
jamais. O que os funcionários vão receber este mês, ou no mês que vem, em
reposição, nesse recebimento dos funcionários não estará computado, por
exemplo, o descongelamento dos preços, inflação, nada disso. Vão receber os
funcionários, neste mês ou no outro, com os valores de março. E eu acredito,
Presidente da Casa, Lideranças, Vereadores, que existe uma necessidade de se
pressionar a administração municipal para que não enrole os funcionários
públicos, porque vão pagar com uma receita gorda, pois a receita vai estar um
pouco mais gorda, já que não se perde e não vai se pagar repondo nada do que os
funcionários públicos perderam. Quer dizer, vão receber talvez abril ou maio,
com o preço de março, os mesmos números de março. De alguma forma esse dinheiro
está girando e talvez a reposição possa ser para com o resultado desse giro.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) O Sr. Presidente da Carris diz que a inflação é de 70%.
O SR. LUIZ BRAZ: E querem dar 25% mais 12%. Acontece que a
fixação desse percentual é preciso que seja o mais rápido possível, porque
quanto mais demorado para fixar esse percentual, Ver. Adroaldo, mais perderão
os funcionários, porque os funcionários já estão perdendo bastante com a não
fixação do percentual que seja relativo à inflação normal que deveria ser de
76% e perde ainda muito mais porque vão pagar o que devem em março com a
receita de abril ou quem sabe até de maio.
Então
essas distorções, esse ganho que o Município tem, às custas da fome do
funcionário público, essa ação que o PT tanto combateu no passado e que agora
está utilizando-a na sua Administração e que eu acredito que deva merecer os
reparos dos Vereadores aqui desta Casa, e eu acredito que não podemos mais
ficar ouvindo propostas e mais propostas, números e mais números, quando na
verdade o próprio Secretário da Fazenda disse hoje que não tem nem ao menos uma
projeção do Orçamento deste ano. Ele sabe o que está entrando no caixa hoje. E
sabe o que está pagando hoje, mas não tem nem um tipo de projeção, mesmo na
época em que a inflação era muito maior do que é neste exato instante, os
administradores daquela época já se atreviam a fazer algum tipo de projeção.
Hoje, mesmo numa época como esta e que é possível fazer algum tipo de projeção,
o Secretário da Fazenda vem a esta Casa e diz que não existe nenhum tipo de
projeção. A única coisa que ele conhece é exatamente o dia de hoje, o que entra
e o que sai do caixa no dia de hoje. Quer dizer, é uma pena que a Administração
Pública esteja sendo tratada dessa forma. Sou grato.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com
a palavra, o Sr. Secretário para a verificação de “quorum”.
O SR. 1º SECRETÁRIO: (Procede à chamada nominal dos Srs.
Vereadores para nova verificação de “quorum” para entrar na Ordem do Dia.) Há
“quorum”, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE: Passamos à
PROC.
Nº 0880/88 – VETO TOTAL ao PROJETO DE
LEI DO LEGISLATIVO Nº 057/88,
de autoria do Ver. Isaac Ainhorn, que dá o nome de Moysés Vellinho ao Arquivo
Histórico de Porto Alegre.
- da CEC. Relator Ver. Wilson Santos: pela rejeição do Veto.
O SR. PRESIDENTE: Em discussão o PLL nº 057/88. Com a
palavra, o Ver. Artur Zanella.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
inscrevi-me, em primeiro lugar, porque naqueles segundos que me deram o seu
anúncio e ninguém se apresentou, lembrei-me da questão do ITBI em que
rapidamente foram extintas as possibilidades de inscrição. Mas serei
extremamente rápido e rasteiro nesta questão. Eu ia votar contra o Veto, porque
achava estapafúrdia, sem pé nem cabeça a justificativa dada pelo Sr. Prefeito
Municipal a respeito do Veto ao nome de Moisés Vellinho. Recebi, hoje, um xerox
do nobre Líder do PT, não sei se S. Exa. acolhe as razões dadas pelo Sr. Mário
Maestri, eu vejo que é doutor em História pela Université Catolique de Louvain,
na Bélgica, e Professor de curso de Pós-Graduação da PUC do Rio Grande do Sul.
Aí então já tem justificativa o Veto. O que vem escrito no ofício, não tem
justificativa nenhuma, uma das atribuições do Vereador é dar nomes a ruas, a
locais e não há necessidade de nenhuma consulta ampla e se houvesse essa
necessidade o ofício que eu recebi do Instituto Histórico do Rio Grande do Sul
acabaria com as minhas dúvidas. Mas já que veio essa justificativa eu imagino
que, tendo sido distribuída pelo Líder do PT, ela é encampada por esse Partido,
eu diria que aí se agrava um pouco mais. Aí o Veto é ideológico. Se esse
documento, esse artigo é encampado pelo PT, o Veto é por motivos ideológicos e
eu não aceito, por dois motivos pessoalmente não aceito. O primeiro porque não
se pode pinçar da obra de um escritor da magnitude de Moisés Vellinho duas ou
três frases para justificar que ele é racista, que ele não gosta de mulher e
que ele acha que o Rafael Pinto Bandeira, que era gordo, é citado como magro.
Mas não foi somente Moisés Vellinho que exaltou o Rafael Pinto Bandeira, quem
leu os livros de Érico Veríssimo vê que o nosso grande, nosso maior escritor
sempre exaltou também Rafael Pinto Bandeira, sem dizer que era gordo e sem
dizer que ele precisava de um banquinho para subir num cavalo, mesmo gordo e
mesmo tendo que subir num banquinho esse herói gaúcho defendeu a nossa terra,
esse herói gaúcho lutou para defender as fronteiras do Rio Grande do Sul e não
será o Sr. Mário Maestri que irá denegri-lo. E também Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, também não aceito pelo aspecto ideológico. Votei nesta Casa aqui
por Rua para Manoel Soares que foi assassinado, votei a favor da Praça Sandino.
Não teve um Requerimento da Verª Jussara Cony, Antonio Hohlfeldt, Caio Lustosa,
pedindo Sessão Solene para os mais diversos movimentos de esquerda que eu não
votasse. Votei favorável a todos. Todos. Agüentei discursos aqui, meus
senhores, minhas senhoras, Srs. Vereadores, agüentei uma Sessão em homenagem a
ANAI, agüentei a Sessão que, no final, faltando 10 minutos – não apareceu
ninguém da ANAI, e por isso que agüentei – compareceu aqui uma menina, talvez
algum dos senhores se lembrem – compareceu aqui uma menina com uns livrinhos
debaixo do braço, perguntando se tinha alguma Sessão sobre índio – faltando 10
minutos para terminar. Não veio ninguém; não veio. E eu fiquei aqui, assisti a
discursos. Nem o homenageado veio. Mas eu fiquei. Votei sempre a favor de todos
os Requerimentos de esquerda que chegaram nesta Casa. Todos. Então, com mais
razão vou votar hoje a favor da manutenção do nome de Moysés Vellinho que,
agora sim, aparece o verdadeiro motivo do Veto. É ideológico. Votei para Porto
Seco o nome do Sr. João Goulart, apesar de irregular, o nome de João Goulart
para o Porto Seco era irregular – já tem uma avenida com o seu nome aqui perto
no Gasômetro – é irregular, mas votei a favor. Então, Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, eu pretendia que o autor do Projeto falasse, mas como naqueles
segundos que o Sr. Presidente colocou para discussão ninguém levantou a mão, e
para evitar o exemplo do ITBI, me inscrevi e evidentemente votarei a favor do
Moysés Vellinho, votarei a favor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Sul, mas, principalmente, votarei contra qualquer Veto ideológico que
venha a esta Casa, seja de que lado for, esquerda ou direita. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Leão de Medeiros.
O SR. LEÃO DE MEDEIROS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Retorno
a esta tribuna para me pronunciar a respeito do Veto que o Sr. Prefeito
Municipal entendeu de encaminhar a esta Casa, a respeito da indicação de Moysés
Vellinho como nome para o Arquivo Histórico do Município. É preciso lembrar que
em dezembro do ano passado esta Câmara, por unanimidade, abstraída qualquer
ingerência de cunho ideológico, mas reconhecendo no escritor e ensaísta Moysés
Vellinho um nome que transcendia as fronteiras culturais do nosso Estado,
entendeu de dar o seu nome ao Arquivo Histórico. Era daqueles Projetos que
devem ser louvados, mais um da iniciativa do Ver. Isaac Ainhorn, e que parecia
encaminhar-se para o seu referendo pelo Prefeito Municipal. Todavia, fomos
surpreendidos, no início da Legislatura, com o Veto aposto a esse Projeto de
Lei. Na época, quando tive ciência de que entrava na Casa essa tentativa do
Prefeito Municipal de vetar o nome de Moysés Vellinho, subi a esta tribuna
para, de imediato, manifestar o meu pensamento a respeito de tão ilustre figura
e já na ocasião adiantava o meu voto de que quando desse oportunidade, me
posicionaria pela rejeição dessa pretensão da Administração Municipal. E hoje
retorno a esta tribuna lamentando que durante esse interregno de tempo a
Prefeitura Municipal, através da sua intelectualidade, especialmente da
Secretaria da SMC não tivesse adotado outra providência do que a retirada dessa
proposição que se encontrava na Casa. Lamentavelmente vamos para votação e
neste momento falo em nome de toda a Bancada do PDS, que se posiciona em
uníssono pela rejeição desse Veto. O Ver. Artur Zanella colocou muito bem: hoje
se materializa, através da distribuição de um artigo, que a intenção do Veto é
de cunho ideológico. Reforço os nossos posicionamentos de que o Veto deve ser
rejeitado. Moysés Vellinho transcende as críticas do documento que vem assinado
pelo historiador Mário Maestri. Prefiro ficar com aqueles que, através do tempo
deram a Moysés Vellinho toda a biografia que ele, hoje, possui: foi Promotor
Público deste Estado, foi Deputado Estadual, foi Ministro do Tribunal de
Contas, foi Presidente da USPA por mais de 20 anos, foi fundador e mentor da
Revista Província de São Pedro e foi membro do Instituto Histórico e Geográfico
do Rio Grande do Sul. Portanto, é um nome que dispensa maiores comentários, é
uma das relíquias intelectuais de nosso Município e de nosso Estado.
Srs.
Vereadores, volto a esta tribuna para reafirmar o posicionamento, agora do PDS,
contrário a este Veto. Prefiro ficar com as palavras do jornalista emérito
Sérgio da Costa Franco, quando em 9 de fevereiro ao encerrar um artigo que
escreveu a respeito do assunto assim se posicionou, e cujo texto peço a
transcrição em seus Anais.
(Lê.):
“...o
homem escolheu um tranqüilo e inofensivo projeto, aprovado pela unanimidade do
Legislativo, para exibir apetite de mando e vocação para o patrulhamento
ideológico. Entretanto, não invocou razões claras, altivas e indisfarçadas.
Nada opôs aos méritos de Moysés Vellinho nem lhe discutiu o retrospecto
político. Apenas invocou o especioso e jesuítico motivo de que a proposta não
fora debatida pela sociedade... Como se a Câmara não representasse, de fato e
de direito, a comunidade porto-alegrense. E como se associações de bairros e
conselhos populares estivessem acaso preocupados em discutir a denominação de um
arquivo... Lamentavelmente funcionou, no episódio, a patrulha ideológica sob a
modalidade mais dissimulada e hipócrita que é a de dar o tapa e esconder a
mão.” Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Próximo orador inscrito é o Ver. Elói
Guimarães.
O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, nós
entendemos que à Casa está reservado um papel significativo nesta tarde, qual
seja o de desagravar, através da derrubada do Veto, a cultura literária gaúcha
que tem na figura de Moysés Vellinho uma das melhores qualidades literárias do
nosso Estado.
As
razões, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, apostas ao Veto, não são razões
ideológicas. O Prefeito, ao vetar a matéria, fundamentou, naquele velho e
cansado chavão de que se tem que consultar as bases, esquecendo o momento em
que colocava o seu veto de que a Câmara Municipal de Porto Alegre é a mais
autêntica representação da vontade da Cidade de Porto Alegre. Não há, Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, uma representação que melhor expresse os
sentimentos da Cidade do que a própria Câmara Municipal. Então, ao colocar da
forma como colocou o Veto, me parece que não se invoca uma questão ideológica
literária. Distribui-se ai um avulso cujas idéias e apontamentos sequer
encaminham o entendimento de que teria Moysés Vellinho feito ou tomado posturas
que o colocassem como um homem conservador. Moysés Vellinho foi
indiscutivelmente alguém que descreveu a história conservadora do Rio Grande.
Moysés Vellinho retrata em todo o seu trabalho literato, de forma absolutamente
fiel, o retrato e a versão gaúcha. Os seus personagens na sua devida expressão,
por isso um grande escritor. Por isso um grande escritor que não colocou o seu
juízo e a sua avaliação à História e os seus personagens, antes pelo contrário,
descreveu com absoluta clareza e nitidez a História do Rio Grande do Sul.
Então,
Sr. Presidente, Srs. Vereadores, pretender-se atribuir a Moysés Vellinho um
papel de visão conservadora da História, se nos afigura um equívoco, na medida
em que Moysés Vellinho descreveu a História não como queria, ou como poderíamos
querer, descreveu a História na medida em que a História assim, a ele,
evidentemente, na sua visão, assim se apresentou.
Então,
Sr. Presidente, Srs. Vereadores, a Casa hoje está a resgatar, na medida em que
revisará o Veto do Sr. Prefeito Municipal, estará a desagravar de forma a mais
representativa todos os ilustres gaúchos que têm no Veto um agravo a esta
figura imortal das letras gaúchas que foi o nosso Moysés Vellinho. Porque não
se trata, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, de fazer-se uma califórnia ou uma
competição com o escritor ou com outros escritores. Trata-se, sim, de
concedermos ou não, nominarmos ou não, o nosso Arquivo Histórico de Moysés
Vellinho.
Então,
a análise não pode trazer em cotejo aqui uma competição. Não. Deveria-se por o
escritor, a, b ou c, porque aquele escritor interpretava, a meu juízo, a
História de forma diferente? Não, não está-se a fazer uma competição. Está-se
isso sim, Sr. Presidente e Srs. Vereadores – e me parece que aí o Executivo
Municipal não aprendeu de forma mais límpida esse entendimento – a se dar ou
não se dar, se conceder ou não ao título do Arquivo Histórico o nome de Moyses
Vellinho.
Então
fica aqui, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o nosso entendimento de que a
Casa, que é expressão incondicional, autêntica da Cidade de Porto Alegre, a
Casa vai desagravar a literatura gaúcha que teve indiscutivelmente um
lamentável agravo quando vetava projeto que dá o nome de Moyses Vellinho ao
nosso Arquivo Histórico de Porto Alegre.
E
por ser representativa, por expressar aqui os mais diferentes anseios da Cidade
é que a Casa goza da legítima isenção, ela é isenta na medida em que representa
pluralistas da Cidade.
Nós
somos, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, e não o Executivo, porque o Executivo
expressa de forma singular os interesses da Cidade, a Casa diferentemente
procede, por expressar a pluralidade dos diferentes segmentos nas mais
diferentes áreas da Cidade de Porto Alegre.
Mas,
retomando, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, pensamos que Moyses Vellinho foi um
escritor autêntico, colocou a sua visão com base, não talvez no seu querer
literário, mas procurou colocar toda essa atmosfera, principalmente da
província de São Pedro, da forma como encontrou. Por isso é um escritor
autêntico, pode desagradar à visão ideológica de muitos, mas o que não se pode
negar é a sua absoluta e legítima autenticidade. E, neste sentido, todos
unânimes, seus colegas, escritores, literatos, com essa postura de
autenticidade de Moyses Vellinho, porque foi um homem que encontrou o fato
histórico e não colocou a sua visão ideológica. Pintou, a exemplo de um pintor,
um quadro da História que encontrou. E, talvez por isso, tenha pago um preço na
visão daqueles que entendem que a História deve ser contada segundo sua visão e
sua ótica ideológica, embora todos concordemos que a História tem muito da
visão de cada um.
E
os vencedores Sr. Presidente, Srs. Vereadores, normalmente escrevem a História,
mas no campo da literatura e no campo da visão do homem do Rio Grande do Sul,
do gaúcho, Moysés Mellinho, segundo a crítica especializada, foi um compilador,
contou a História da forma como ela se apresentou, da forma como os dados, as
posturas, os matizes, os desenhos se apresentaram. E nisso elaborou os seus
trabalhos, bons trabalhos, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que hoje
enriquecem as bibliotecas gaúchas, traçando e contando o perfil do homem
gaúcho, do homem do Rio Grande do Sul. Por isso entendemos que a Casa hoje
desempenhará um papel significativo, na medida que desagravará a História,
desagravará a literatura gaúcha, derrubando o Veto do Sr. Prefeito Municipal
que, a meu juízo, não chega a ter conteúdos de ordem ideológica, pelo menos não
expresso nas razões apostas ao presente Veto. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Próximo orador inscrito, Ver. Adroaldo
Corrêa.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o que
está em exame é o Veto do Prefeito à nominação do Arquivo Histórico de Porto
Alegre com o patrono Moysés Vellinho. E o Prefeito argumenta que quer
justamente o debate. Justamente esse é o argumento do Veto. Não sei, porque não
estava na Legislatura passada, se o debate teve a profundidade que está a
merecer com a razão do Veto. Não sei se houve o arrazoado e o conjunto de
contraditas que aqui estão sendo apresentadas e pode-se perceber que o debate é
ideológico. Não é o rigor científico que está norteando a posição de um nome de
uma pessoa a um próprio do Município. Não é o rigor científico. Se fosse, não
teríamos dúvida nenhuma. Então, se não é isso, só pode ser um debate
ideológico. Só podem ser razões de fundo em idéias e o Prefeito, ao apresentar
o Veto, pede o debate e até que esse debate se estenda possa conceber, ao
final, que o nome poderá ser este mesmo, até porque, neste projeto, que é de
autoria de Vereador da Casa, não cabe ao Prefeito a iniciativa neste momento.
Mas
gostaria de discutir, no plano das idéias, sem o rigor científico, que,
eventualmente, e não como observou desta tribuna, rápido, o Ver. Elói
Guimarães, mas preciso, que a História eventualmente é escrita pelos vencedores
e aos vencidos – ele disse num lapso “vencidos” e nós chegamos a um acordo de
que teria dito vencedores – nada sobraria. Nós concordamos que a História é
geralmente escrita, nos livros oficiais, pelos vencedores. Os vencidos ou
aqueles que buscam se libertar de vencedores eventuais escrevem a sua história
e a registrarão na eventualidade de terem acesso aos registros oficiais. Mas
não é esse o debate que também se gostaria de fazer, finalmente, para ser
breve. Se o assunto é polêmico, cabe perguntar, um próprio da Cidade, do nível
e do porte do Arquivo, ou da Orquestra, por exemplo, tem que ter o nome de uma
pessoa para existir com profundidade e com respeito nas consciências dos
porto-alegrenses? Esposamos a tese e um conjunto de teses formadas por idéias
de que não necessariamente. Talvez mais importante seja que se verifique que o
Arquivo Histórico é de Porto Alegre e, portanto, o Arquivo Histórico de Porto
Alegre basta para identificá-lo como de uma cidade que tem uma história onde se
verifica, no plano das idéias, no plano concreto, uma luta de classes e que há
de estar registrada nesse Arquivo. Isso é que se deve cuidar, que o Arquivo
contenha os documentos da História de Porto Alegre e permita identificar a
qualquer tempo e a qualquer momento quem foram aqueles que contribuíram, em que
lado estiveram a cada momento da história de suas vidas e da História da Cidade
e da história da luta de classes na Cidade. Isso é essencial. Do ponto de vista
da tese que desposo, ainda que, eventualmente, numa rua, numa praça se fixe o
nome de uma pessoa que se queira homenagear, neste que é um símbolo do registro
da história cabe que fique, não inominado, mas saudavelmente, salutarmente
nominado como Arquivo Histórico de Porto Alegre. Se mudança fosse feita,
deveria ser para Arquivo Histórico da Cidade de Porto Alegre, no máximo,
porque, a partir daí, teríamos o registro dentro dos arquivos, e não apenas por
nomear este ou aquele patrono, que pode, sim, e cabe divergir, pois o Prefeito
tem idéias, os Vereadores têm idéias, todos temos idéias, seja qual for a
função que ocupemos, e o debate, quando não tem o rigor científico, é
ideológico, porque esposamos, nos atos que fazemos, nos atos que realizamos,
idéias e, portanto, um conjunto de idéias que não obedecemos o rigor
científico, será um debate ideológico, uma ação às vezes correta, às vezes
incorreta, mas norteada no plano ideológico por um conjunto de idéias. Este era
o registro, dizendo que a tese que sustentamos é de que, não havendo nominação,
dá guarida à manutenção do Veto. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Solicito ao Ver. Adroaldo Corrêa que
assuma a Presidência dos trabalhos, a fim de que eu possa fazer uso da palavra.
O SR. PRESIDENTE (Adroaldo Corrêa): Com a palavra, o Ver. Isaac Ainhorn.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ao ser
autor da iniciativa da proposição que dá ao Arquivo Histórico Municipal o nome
de Moysés Vellinho, eu, sinceramente, não imaginava que o assunto viesse,
evidentemente, criar tamanha polêmica. E, ainda na Legislatura passada, esta
Casa manifestou-se, por unanimidade em relação à denominação de Arquivo
Histórico Moisés Velhinho ao nosso Arquivo Histórico, ao Arquivo Histórico da
Cidade de Porto Alegre. Este Arquivo não é o Arquivo Histórico do Estado,
localizado na Gonçalo de Carvalho, nem o Arquivo Histórico Municipal, vinculado
à Secretaria de Administração, ali na Farrapos, que necessita urgentes
reformas. Eu entendo que esta polêmica ensejou, exatamente, que esta Casa
pudesse sobre esse assunto se manifestar. E ele traz, no fundo, uma riqueza de
aspectos que podem ser enfocados em relação ao Veto do Sr. Prefeito. Eu acho,
sinceramente, que mesmo no conteúdo ideológico, respeitando a posição do
Governo da Frente Popular, respeitando a posição do Prefeito Olívio Dutra, do
Partido dos Trabalhadores, que eu acho que é um Partido que ainda não acertou o
passo, mas que procura estabelecer uma política responsável e séria à testa do
Governo Municipal, que pelo menos faz esforço para acertar, a realidade é a
seguinte: o velho sectarismo – esta é uma discussão que mereceria maior
profundidade – mas o velho sectarismo das esquerdas brasileiras se manifesta
nesta questão. Sempre aparece um intelectual para sustentar um ponto de vista.
Eu me recordo de um período meu, na década de 70, depois a gente passa até a
fazer uma revisão crítica de autores que às vezes até a gente desconhecia, mas,
nessa época, nós criticávamos apenas porque não estavam dentro da ótica
marxista. Errávamos ao criticar outras visões de mundo que nos eram
transmitidas. O próprio Marx era uma figura que admirava o teatro grego,
admirava a comédia latina de Plauto, de Terêncio, admirava Shakespeare, não
colocava aquilo na vala comum dos escritores burgueses, que expressavam
determinado estágio da relação de classes e aquilo ficava por aquilo mesmo,
perdendo totalmente o conteúdo artístico. O Marx não tinha esta visão em
relação a muitos escritores e eu acho que hoje quando se traz a debate essa
questão realmente o que se tem presente é o sectarismo da esquerda brasileira,
muitas vezes estabelecendo convívios democráticos, assim como nós aqui
aprovamos a Praça Sandino e aí já é uma questão muito mais presente, porque o
Sandino era um homem de ação política, uma figura que se inspira naquela figura
de inspiração à transformação social, econômica, de uma nova visão em relação à
Nicarágua e às grandes lideranças revolucionárias da América Latina e mesmo
assim eu acho que quem foi muito feliz na sua expressão, aqui, no seu discurso,
foi o Ver. Artur Zanella, porque se nós não tivermos essa abertura, Ver. José
Valdir, nós vamos entrar num terreno muito movediço de convívio entre as
diversas facções, as diversas expressões que correm e fluem naturalmente aqui
dentro deste Plenário, que é uma expressão da nossa sociedade, da Cidade de
Porto Alegre, nas suas mais diversas variantes. De repente, viria aqui o Ver.
Leão de Medeiros e pediria para mudar o nome do CIEM Leocádia Prestes ou pedir
a mudança do nome da Rua do Sargento Manuel Raimundo Soares, que eu tive a
honra de carregar o seu caixão pelas ruas da Cidade, porque levamos o caixão em
protesto por aquela morte até o cemitério a pé. Eu acho que nós não podemos ter
aqui no convívio do dia-a-dia esse ranço sectário que prejudica o livre
convívio de facções diferentes, sobretudo na área da luta política, na área de
visão de mundo. Vamo-nos acordar para isso. E eu apelo até a reflexão dos
próprios companheiros do Partido dos Trabalhadores. Nós não estamos sequer
discutindo, aqui, um nome controvertido na área de uma ação política nos
últimos 20, 30 anos. Não. Um homem que coloca uma posição em termos da sua
visão de História da formação do Estado Rio-grandense. E a posição não é
elaborada ainda pelo próprio PT. Não tem uma visão própria. O próprio Prefeito,
ao dar o seu Veto, foi pelo caminho de que aquilo não estava suficientemente
amadurecido, que aquilo não foi objeto de um livre debate. Eu acho que ele se
equivocou porque o livre debate se estabeleceu aqui no seio desta Casa. Os
Vereadores são a expressão política da Cidade de Porto Alegre. Mas ele achava
que não tinha havido, pois houve várias manifestações. Então, vejam que é um
negócio tão aberto e imaginem que se amanhã aqui alguém contestar o nome da Rua
Josué Guimarães, ou a Biblioteca Josué Guimarães no Centro de Cultura Lupicínio
Rodrigues? É isso, Vereador, a posição é presente de Josué Guimarães, o
escritor era uma posição marcadamente ideológica, ele não escondia as suas
posições, a sua luta contra o regime que se instalou no Brasil em 1964 e por
isso foi inclusive punido. Agora, imaginem se viesse algum Vereador aqui e
dissesse que não iria homenageá-lo. Pelo amor de Deus! Onde é que ficaríamos?
Vejam que houve a reação da imprensa, que é uma expressão. Não vai se acusar a
imprensa. Não, a imprensa é burguesia, a imprensa é do establishment que
está sustando o nome do conservador Moysés Vellinho. Não, várias manifestações,
por exemplo, o Luis Fernando Veríssimo que fala aqui na sua crônica de 4 de
fevereiro: “Por falar no Prefeito de Canela, o Prefeito de Canela é neto de
Moysés Vellinho, não dá para entender a hesitação em dar o nome do grande
historiador ao Arquivo Público Municipal. O que poderia existir contra a
homenagem? A escolha, mais do que justa, é óbvia. Luiz Fernando Veríssimo.”
Agora, Sérgio da Costa Franco critica o patrulhismo, não vamos entrar no
mérito. Posteriormente, a manifestação do Instituto Histórico e Geográfico do
Estado do Rio Grande do Sul, ela é conclusiva, quer dizer, não é uma
instituição que surgiu ontem, é uma instituição que já existe há muito tempo e
em 1921 ela já tinha reconhecimento de utilidade pública do Governo Federal. É
essa instituição que se dirige a esta Casa, interpretando sentimentos da
unanimidade dos membros desse Instituto. Imagino que não tenha lá dentro do
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul apenas historiadores,
estudiosos da linha e da visão de Moysés Vellinho, da história de Moysés
Vellinho.
(Lê.)
“Presentes à assembléia do dia 16, vimos solicitar a V. Exª, por seu intermédio
e aos demais integrantes deste Legislativo, a rejeição do Veto aposto pelo
Exmo. Sr. Prefeito Municipal ao Projeto de Lei que dera ao Arquivo Histórico
Municipal a denominação de Moysés Vellinho. Embora modesta a homenagem que os
Srs. Vereadores porto-alegrenses, por proposta do Ver. Isaac Ainhorn, prestaram
a esse Presidente do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul, nem
por isso mereceria ser rejeitado como o foi por motivações pouco claras e
equívocas...” Esse instituto não desenvolveria esforços por dar a qualquer
instituição cultural do Município um patrono específico. Mas dado o fato de já
possuir o Município um Centro de Cultura com a denominação de Lupcínio
Rodrigues, uma sala de espetáculos chamada Álvaro Moreira, além de um Auditório
com o patrocínio de Araújo Viana, não seria “desarazoado” atribuir ao arquivo
de documentação histórica o nome de um dos mais ilustres historiadores gaúchos.
Ademais, o simples fato da posição de veto assumir ar de ofensa à memória
consagrável e inolvidável de Moisés Vellinho.
O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Nobre Vereador, só um instante para
formalizar para a Taquigrafia. O Ver. Dilamar Machado se inscreve, e contando
antecipadamente com a aquiescência dos Vereadores inscritos, cede seu tempo
para o Ver. Isaac Ainhorn, que dispõe de mais 10 minutos.
O SR. ISAAC AINHORN: Sou grato. Acho que não vou precisar usar
de todo tempo. Ademais, o simples fato da posição do veto, assumir de ofensa à
memória consagrada, inolvidável de Moisés Vellinho, cuja contribuição às letras
e à cultura rio-grandense não mereceria tratamento desprimoroso. E aqui ainda
vem o próprio Ver. Leão de Medeiros; esteve o Ver. Elói Guimarães também, e
fizeram referência à figura que foi Moysés Vellinho. Foi chefe de gabinete do
então Ministro Osvaldo Aranha, foi Deputado da Constituinte de 1934, foi
responsável por inúmeras obras, foi Diretor da Orquestra Sinfônica de Porto
Alegre, foi também Diretor de uma Revista que é um acervo, lamentavelmente ela
não existe mais. É uma pena, os homens aqui ligados à atividade cultural e à
pesquisa histórica sabem da lacuna que representa, hoje, a ausência da Revista
Província de São Pedro em nossa Cidade, que tinha ali as mais diversas matizes
ideológicas escrevendo naquela Revista de que Moisés Vellinho foi Diretor,
“Província de São Pedro”, que era dirigida por Moysés Vellinho. Então vejam V.
Exas que o argumento da inexistência do suficiente debate em torno
da questão não é um argumento forte para derrubar, para vetar o nome de Moysés
Vellinho ao Arquivo Histórico Municipal da nossa Cidade. E mais, as outras
questões formuladas, com todo o respeito ao historiador Mário Maestri, acho que
foi injusto nesse artigo, acho que ele foi faccioso porque a gente não só
homenageia as pessoas com as quais a gente tem uma afinidade ideológica; acho
que a gente tem que ter mais grandeza no ato de homenagear. Eu posso inclusive
ser autor de um nome de rua, fui autor de um Voto de Pesar para o então
Ministro Mem de Sá, Ministro da Justiça do Governo Castello Branco – acho que
foi um homem, embora com todas as divergências existentes, Ver. Elói Guimarães,
que nós trabalhistas tínhamos com o Senador Mem de Sá, mas ele no seu livro “É
tempo de lembrar” se refere a Leonel Brizola com o maior respeito, com
admiração, mesmo com as divergências, e aí a grandeza. Quando vejo um homem que
tem uma postura mais conservadora como do Ver. João Dib, mas convivendo
fraternalmente e discutindo os grandes problemas da Cidade aqui conosco, eu
fico satisfeito – diz o Ver. João Dib, conservador progressista. Eu acho que
isso soma para a nossa Cidade, enriquece. Vejam V. Exas eu trago
aqui, em 1961, o nosso homenageado em questão escreve uma obra: “Ensaio”,
publicado no Instituto Estadual do Livro. À época era Governador o Dr. Leonel
Brizola – Instituto Estadual do Livro, Divisão de Cultura, vejam V. Exas
– 1961; o “Rio Grande e o Prata – Contrastes”. Ele tinha uma tese, entendia que
a formação da República Cisplatina, da Argentina e do Uruguai não era a mesma
formação que a nossa; nós tivemos a presença lusa em nossa formação. Pode até
estar errado nessa concepção, mas não nos cabe em nome da visão ideológica e
divergente que possamos ter em relação a Moysés Vellinho sustentar um Veto a
uma homenagem que a Câmara de Vereadores, a representação política da Cidade de
Porto Alegre, faz a Moysés Vellinho. E depois, injusto ainda. Acho que o
historiador Mário Maestri foi injusto. Ele chega e diz assim: “É uma constante
na literatura histórica de Vellinho sua ligeireza com as técnicas e com os
métodos da historiografia científica. Um exemplo: o autor reproduz literalmente
dezenas de páginas de o ‘Rio Grande e o Prata’ em ‘Capitania Del Rey’.” É
óbvio. O Rio Grande e o Prata – Contrastes, foi um ensaio publicado pelo
Instituto Estadual do Livro. Anos após, 3 anos após, ele escreveu “Capitania
Del Rey”, em que ele reúne uma série de ensaios e inclui o ensaio “O Rio Grande
e o Prata – Contrastes”. Isso é natural! É natural ele fazer uma palestra
isolada, essa palestra ser editada e, posteriormente, ser incluída numa obra
posterior. Mas com que direito o escritor Mário Maestri escreve um artigo
querendo contestar o “pouco rigorismo científico” do Sr. Moysés Vellinho porque
reproduziu capítulos inteiros de um livro que ele já escreveu? Não era um
livro, era um ensaio e esse ensaio ele incluiu depois num livro que trazia
outros novos ensaios. Isso é natural. Quem tem vivência na vida jurídica sabe
que é comum escrever-se um trabalho, separata, e depois incluir num trabalho
posterior. Isso é científico em qualquer ramo do conhecimento, no Direito, na
História, em qualquer área do conhecimento, não só das ciências sociais, mas também
é procedimento que se admite inclusive nas ciências exatas. Portanto, a nossa
estranheza, principalmente quando compara Moysés Vellinho com Gobineau, com
teorias de pureza racial. Daí é querer demais! Com todo respeito ao historiador
Mário Maestri, de repente isso aqui chegou ao ponto da encomenda para sustentar
um Veto! A gente sente, nos ambientes culturais que freqüenta, nos mais
diversos, tanto nos mais conservadores como nos mais progressistas, que todos
ficaram surpresos e manifestações escritas de pessoas, de intelectuais, de
homens da vida da nossa Cidade foram formuladas.
O Sr. Vicente Dutra: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Vereador, pela brilhante exposição que faz V. Exª e o fizeram
também os Vereadores que o antecederam, se verifica, em resumo, que está
ocorrendo, nesse caso do Veto à figura imortal de Moysés Vellinho, aquilo que o
PT mais critica, que é a censura, o patrulhamento ideológico. Aquilo que
condena, numa contradição flagrante, vem fazer através deste desprezível artigo
do Mario Maestri, tentando denegrir a figura histórica de Moysés Vellinho.
Patrulhamento ideológico e censura em seu mais alto grau.
O SR. ISAAC AINHORN: Sou grato e continua uma outra questão,
já examinamos o Veto, o Sr. Prefeito queria ouvir, criar o debate em torno da
questão. Os interessados se manifestaram e de forma clara. O artigo já vai se
perdendo, não ideológico, porque eu sou um homem que posso ter divergências no
enfoque em relação à questão da formação do Estado Rio-grandense, sustentando
nos seus livros. Isso é inegável: a contribuição cultural. Eu não vou falar nem
em outros aspectos, a contribuição que ele deixou à Cidade de Porto Alegre, não
vou entrar em nenhum desses aspectos, agora no aspecto da visão, porque eu até
posso ter divergências dele, mas não posso fazer com que essas divergências me
levem a não prestar uma homenagem a esse que foi uma figura que, para o Arquivo
Histórico, ele seria um nome merecido para o nosso Arquivo.
Por
último ainda, o Ver. Adroaldo Corrêa trouxe o argumento final, buscando a
questão de que o Arquivo Histórico Municipal não pode ter um nome. Eu acho que
no fundo eu sei das dificuldades que ele está tendo de vir à tribuna e
sustentar essa posição, porque na realidade ela esconde, como esconde o Veto,
uma questão ideológica e sequer é acompanhada pelo conjunto da Bancada, pode
até não ser acompanhado pelos Vereadores do PT, pela independência que esses
Vereadores têm, porque não é uma questão fechada, é simplesmente dar
denominação a um próprio do Município. Admitamos, até, Ver. Adroaldo Corrêa,
que o Arquivo Histórico Municipal não tenha que ter nome de A, B ou C, mas ele
foi dado. Esta Casa, por unanimidade, aprovou essa denominação, aprovada em
todas as Comissões da Casa.
Encerro,
Sr. Presidente, neste momento. Manter o Veto do Sr. Prefeito era, aí sim, pior
ainda que a homenagem, era atacar a figura de alguém que não pediu homenagem e
que recebeu através da iniciativa de um Vereador. Proposta que foi acatada.
Então
por todos esses fatos, entendo que esta Casa deve rejeitar o Veto. Sou grato.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Próximo orador inscrito para discutir o
Veto, nobre Ver. João Motta, 10 minutos com V. Exª.
O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores,
certamente essa discussão mereceria um aprofundamento pela complexidade que ela
apresenta. Entretanto, vou tentar destacar um aspecto que me parece que pode
fundamentar uma outra posição nesta decisão, não exatamente a posição proposta
pelo ilustre Ver. Isaac Ainhorn, sem com isso simplificar esse debate, no
sentido de transformá-lo pura e simplesmente num debate ideológico, entre
aspas.
No
meu entendimento, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, não se trata aqui de nós
defendermos uma posição arbitrariamente de censura a obra desse ilustre
historiador, Moysés Vellinho, na medida em que me parece que ele possui o
direito universal de escrever, segundo o seu ponto de vista e a sua
sensibilidade, enquanto escritor, a história deste Estado, do País e do Mundo,
conforme o seu ponto de vista e a sua sensibilidade.
Entretanto,
também me parece óbvio, por outro lado, que a moderna historiografia vem
contestando, de uma forma cada vez mais contundente, alguns pontos de vista que
se reproduziram, particularmente nestas duas décadas em nosso País, com relação
à história, não só do Estado do Rio Grande do Sul, mas com relação à história
político-social do próprio País. Evidente que isso se justifica, na medida em
que nós vivemos, nestas duas últimas décadas, um período de obscurantismo
político e de repressão política. Portanto, essa expressão usada pelo ilustre
cronista Franco, na sua coluna de hoje, “Patrulhas Ideológicas”, ela, de fato,
não é novidade, ela já existiu e continua existindo. Só que me parece que nós
deveríamos enxugar nossa memória e fazer justiça de fato à própria origem
histórica desse termo. Parece-nos que a origem desse termo se deve a esse
período de intenso controle, na proibição, inclusive, cultural em nosso País.
Em
segundo lugar, eu gostaria de destacar que se trata, sim, de uma decisão que,
no meu entendimento, parece correta discutir para oportunizar que os demais
setores os demais indivíduos que pensam na história deste Estado também possam
contribuir para este debate e não apenas as instituições que já foram aqui, inclusive,
suscitadas. Porque sabemos, a grande maioria, infelizmente, possui um
determinado ponto de vista, não só sobre a história, quanto sobre a cultura em
nosso País.
Em
terceiro lugar, o caminho pelo qual pudéssemos resgatar a importância política
de instituições tipo o Arquivo Histórico do Município de Porto Alegre seria
personalizando nomes sob pena de não reconhecermos impossibilidade histórica de
fazermos de outra forma este debate. Parece-nos, portanto, pertinente que a
busca de uma outra forma garantiria essa mesma abrangência e essa mesma
amplitude ou universalidade que o Arquivo Histórico do Município de Porto
Alegre tem. Qual é a forma com que poderemos garantir que a universalidade, que
a abrangência e a amplitude do Arquivo Histórico de Porto Alegre seja mais
democrático? E não reconhecermos que a visão da história, que a visão da
cultura desse modelo, dessa versão colocada por este historiador é nitidamente
um ponto de vista pessoal sobre aquilo que se vive em nosso País. E mais do que
isto, é legitimarmos o ponto de vista desse ilustre historiador sobre, em
última instância, o ser humano. E me parece inegável, quando Marx admite
reconhecer em Shakespeare uma produção na área da cultura numa discussão que
transcendia a própria discussão sobre a sua visão e a sua concepção de mundo, é
porque Marx conseguia identificar na produção artística e cultural de
Shakespeare exatamente aquilo que me parece que é fundamental que se perceba em
qualquer escritor ou historiador, que é o seu sentido universal. Portanto, que
ele sempre contribua no sentido de termos cada vez mais acentuada uma visão
humana sobre o homem e sobre a mulher. E me parece que um escritor, ou alguém
ligado à cultura, que reproduz a seguinte visão sobre a mulher não consegue
reproduzir ou garantir essa preocupação. Está expresso numa parte das obras do
ilustre escritor Moysés Vellinho uma definição ou um pequeno parágrafo onde ele
dá o seu conceito sobre a mulher. Aliás, Mário Maestri diz: “A mulher inexiste
na obra de Moysés Vellinho como uma categoria histórica de importância, e
aparece apenas aqui e lá, na forma estereotipada da esposa amante, submissa e
voltada exclusivamente à função procriadora.” Então diz Moysés Vellinho:
“Mulheres graves e caladas, a esperar sempre, a esperar, desafiando o tempo e
ouvindo o vento, enquanto os homens sobre as armas velam os postos da
fronteira”.
Portanto,
me parece, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que não se trata de uma discussão
tão fácil e tão simplificada assim. Mas se trata de garantirmos que a síntese
do Arquivo Histórico de Porto Alegre não seja esta síntese proposta por Moysés
Vellinho. E não se trata de nenhum veto ou censura a sua obra, mas se trata de
percebermos que, ou este Arquivo Histórico, que tem exatamente o papel de
garantir, de dar substância à memória do Município de Porto Alegre, tenha uma
determinada totalidade ou uma determinada amplitude, ou uma determinada
abrangência.
Portanto,
a discussão aqui, Srs. Vereadores, é a seguinte: Essa amplitude, essa
abrangência, essa totalidade sugeridas nas obras e no ponto de vista do Sr.
Moysés Vellinho é a síntese que vai representar a memória do Município de Porto
Alegre, através do seu Arquivo Histórico. Ou não? Eu entendo que não. Tanto é
que não se trata disso, porque eu ou qualquer outro Vereador poderia propor
aqui a sugestão de nós colocarmos como patrono, por exemplo, do Arquivo
Histórico do Município de Porto Alegre o escritor latino-americano Eduardo
Galiano, autor da famosa obra: “As veias abertas da América Latina”. Mas não se
trata disso, se trata de nós entendermos, em primeiro lugar, que o arquivo
pertence à Cidade de Porto Alegre. E essa é que deve expressar a sua própria
amplitude e a sua própria universalidade, tendo no seu acervo a sua
materialização.
Portanto,
há, ao se discutir arte, história e cultura, a questão da universalidade e
singularidade, seus personagens possuem um sentido mais humanizador, aberto,
que transcende a própria questão da luta política em si. Moysés Vellinho, para
concluir, enquanto historiador, enquanto intelectual, é um ser humano que
reproduz nos seus personagens mulheres com sentido não humano. Por isso que eu
acho que o Município não merece como sendo a materialização da sua memória um
escritor, ou um historiador que reproduza esse ponto de vista sobre a cultura.
Registro
mais uma vez que não se trata de um veto arbitrário ou de uma censura, como foi
colocado aqui, especificamente, a esse ilustre cidadão que tanto nos orgulha,
pelo fato de ser um indivíduo que se destacou na área da produção histórica do
Estado.
O Sr. João Dib: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Nobre Vereador, o Executivo Municipal tem denominado as escolas,
permanentemente denominações do Executivo. Pelo que sei, a Câmara denominou
aqui uma Escola de Lindolfo Collor, uma escola industrial que era do SESI. Mas
o nome Moysés Vellinho é absolutamente certo, porque é o Prefeito que diz: não
se nega o valor e o brilho intelectual desse ilustre filho do nosso Estado. Eu
acho que a discussão não está produzindo nada, talvez a homenagem seja muito
pequena e, talvez, até por isso merecesse um veto para que o Executivo desse
uma homenagem muito maior, já que o próprio Executivo reconhece seus méritos.
O SR. JOÃO MOTTA: Eu, particularmente, não nego seus
méritos, mas eu registro, para concluir, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, que
tenho que colocar um ponto de vista diferente desse que o ilustre Vereador
acabou de sintetizar neste momento. Poderíamos até prestar uma homenagem, algum
dia, a esse historiador mas, certamente, não seria esta homenagem, porque me
parece que é gravar a memória histórica do Município de Porto Alegre, sob o
ponto de vista, digamos assim, avesso a uma história e cultura que quer
exatamente esquecer a discriminação que tantas conseqüências causou ao povo deste
País. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Próximo orador inscrito para discutir o
Veto é o Ver. José Valdir.
O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Entendo
que esta discussão é ideológica. Como o próprio fato de colocar no Arquivo
Histórico – concordo com o Ver. Adroaldo, não haveria necessidade de um nome –
um nome, porque quem vai perguntar qual o nome do Arquivo, pergunta o Arquivo
Histórico. O próprio fato de colocar esse nome com o conteúdo da obra de Moysés
Vellinho já é ideológico. A própria escolha desse nome é ideológica. E eu
gostaria de colocar que o artigo do Maestri não é censura, como não há censura
do PT, como colocaram aí. Que bom que a ditadura militar fizesse censura desta
forma! Censurasse, vetasse e mandasse para o parlamento decidir. Que bom que
fosse assim! Então, isto não é censura, isto é debate e neste debate quero
colocar que na historiografia existe de fato o que poderíamos chamar de duas
interpretações da história, porque a história, a historiografia não é como
falou aqui um descritor, que descreveu a história de forma tão objetiva que não
acrescentou nada. Isto não existe, porque o historiador é um cientista que
interpreta os fatos. Então, nós temos, de fato, duas linhas da historiografia:
uma historiografia oficial e aquela que procura analisar a história de forma
factual, acrítica, não aprofundando as raízes e procurando colocar a história
sempre do ponto de vista da classe dominante. Aliás, essa historiografia é que
enche os nossos livros escolares. E essa historiografia é ideológica, também. A
partir dessa historiografia é que a gente costuma olhar o passado e sacralizar
o passado, sacralizar determinados heróis que, na verdade, são heróis que
estiveram de um lado da história, tiveram um lado na luta que aconteceu no
passado.
Chama-me
muito a atenção quando analisamos figuras históricas, consagradas. Por exemplo,
Duque de Caxias, todo mundo lembra o pacificador. Se nós tecermos alguma
crítica ao Duque de Caxias, parece que vai cair o mundo, porque ele é tido como
o grande herói, o pacificar, porque a historiografia oficial assim analisou e
consagrou para a história. Mas vamos analisar criticamente: Duque de Caxias foi
um pacificador aqui no Rio Grande do Sul, no enfrentamento com a Revolução
Farroupilha, que era uma Revolução dos latifundiários. Agora, lá no Pará, ele
foi o trucidador na revolta da Cabanagem, matando quarenta mil pessoas. E por
que isso não aparece na história? Porque a historiografia oficial, muito
habilmente, esquece o que aconteceu lá. Porque, lá, não era briga de família,
lá se enfrentava não a classe dominante local, mas se enfrentava uma revolta de
cunho popular. Então, a questão, de fato, é ideológica. Eu – isso não é
sectarismo – sempre vou defender que temos que ter clareza nesta questão. Tudo
aquilo, e todos os escritos e as análises sobre a História que levam a ignorar,
a não fazer uma análise profunda, como é o caso em questão, a consagrar o
racismo, a consagrar a mutilação da influência da cultura negra, da cultura
índia, a negar ou a ignorar isso, sob o argumento de que a história foi assim e
vamos contar assim e não analisar criticamente, eu não presto minhas homenagens
a esse conteúdo, embora reconheça que a pessoa até possa ser um brilhante
historiador – seja lá quem for – na forma de analisar. Mas não é a visão que eu
defendo, e eu acho que essa visão não constrói para resgatarmos a história real
de luta do povo brasileiro. Não contribui. Então, coloco aqui estas questões,
porque, de fato, o debate é ideológico, e isto que estou colocando é censura;
eu estou apenas querendo debater, e debatendo, o assunto. E também não é
sectarismo das esquerdas, porque me parece que essa leitura sobre a história é
até comum nas esquerdas, pelo menos as que se dizem socialistas, de analisar a
história do ponto de vista dos interesses das classes oprimidas, do interesse
do negro, dos trabalhadores rurais, e assim por diante. Então, não há
incoerência e não há sectarismo nessa colocação; é apenas analisar a história
de forma coerente, e não baseado e reforçando a historeografia oficial, que, a
meu ver, tem um conteúdo ideológico, que é o conteúdo de negar as lutas
sociais, o conteúdo de querer perpetuar preconceitos como o de que somos um
povo harmônico, um povo que nunca luta e que tudo tá bom, mais ou menos como
vemos até na literatura. Quem leu José de Alencar, que foi um latifundiário, vê
que dá até gosto ser escravo, porque há uma harmonia entre escravo e senhor. E
muitos historiadores fazem uma análise de História para passar este tipo de
conceito e de preconceito, que é tremendamente ideológico e que contribui para
atrasar as lutas populares no Brasil. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Adroaldo Corrêa): Com a palavra, o Ver. Giovani Gregol.
O SR. GIOVANI GREGOL: Sr. Secretário, assumindo as funções de
Presidente, Srs. Vereadores, eu tenho acompanhado, com atenção, não só os
debates que se têm dado, principalmente através dos meios de comunicação de
massa, a respeito dessa polêmica da nomeação do nosso Arquivo Municipal com o
nome de Dr. Moysés Vellinho, como, aqui nesta Sessão, também, atentamente,
acompanhei as várias manifestações. E quero, aqui da tribuna – e não poderia
deixar de fazê-lo – dar a minha opinião, a minha contribuição. Quero deixar bem
claro, antes de iniciar o assunto propriamente dito, que o faço do ponto
estritamente pessoal. Portanto, não falo em nome da Administração, não falo em
nome da Bancada; falo em meu nome. Aliás, como modesto, humilde professor de
História que sou, estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que
fui, me sinto na obrigação de fazer algumas observações sobre a questão. Em
primeiro lugar, gostaria de fazer alguns reparos em nome da precisão da ciência
histórica a alguns Vereadores que me antecederam, especialmente ao Ver. Isaac
Ainhorn e ao Ver. Elói Guimarães. O brilhante jurista e intelectual Ver. Isaac
Ainhorn disse aqui que, “ao contrário dos marxistas da esquerda brasileira...”,
acho que ele não quis dar a entender que nós, aqui presentes, ou outras pessoas
do Partido dos Trabalhadores, somos esta esquerda brasileira que se diz
sectária. Pelo contrário, nós temos dado o exemplo, através da curta história
do nosso Partido, que nós pretendemos ser um partido de esquerda não sectário e
por isso crescemos no Brasil. Disse o Ver. Isaac Ainhorn que Marx, ao contrário
de muitos que existem hoje no Brasil, que se dizem da esquerda, admirava
escritores burgueses, como Terêncio, Plauto, etc. Eu quero dizer ao ilustre
Ver. Isaac Ainhorn que não seja por isso, Vereador. O Karl Marx não poderia,
por serem burgueses, refutar esses famosos autores, até porque a burguesia não
existia na Grécia ou na Roma antiga, época em que viveram Terêncio e Plauto,
aos quais V. Exª fez referência. A burguesia surgiu há cerca de 15 séculos
depois.
Então,
jamais Marx poderia considerá-los autores burgueses. Mas mesmo autores
burgueses, a eles Marx também fez muitas referências, inclusive na sua obra
sociológica e os apreciava muito. O fato de os autores serem burgueses ou deixarem
de ser burgueses não qualifica a sua obra de arte como mais ou menos
qualificada.
O Sr. Isaac Ainhorn: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Apenas para dizer, Vereador, que quando eu usei a expressão
burguês, eu tomei como ponto de partida, até talvez do ponto de vista de
precisão sociológica. V. Exª até pode ter razão, mas trata-se, nobre Vereador,
do seguinte: V. Exª não há de desconhecer que a sociedade de então, tanto a
Roma antiga como a Grécia antiga já eram uma sociedade dividida em classes e,
conseqüentemente, esses autores poderiam ser autores ligados às classes
dominantes. Nesse sentido, no conceito de burguês, eu sei a conceituação
sociológica de classe dominante. Quer dizer, V. Exª vai entender. O próprio
Shakespeare e Marx deleitavam-se ao ler esses autores.
O SR. GIOVANI GREGOL: Como nós todos nos deleitamos. Mas eu
entendi, Ver. Isaac Ainhorn. Quero dizer que inclusive na obra de Marx também
não está definido que Roma antiga era uma Cidade de classes. Isso é discutível
na obra do próprio Marx. Mas, continuando. Agora, o Ver. Elói Guimarães fez
aqui uma defesa brilhante, por que manter essa denominação de Moysés Vellinho,
dizendo que Moysés Vellinho, à parte, sem considerar a sua ideologia, se
limitou apenas e unicamente a relatar fatos?
Eu
quero dizer ao Ver. Elói Guimarães que nunca, mas nunca se faz ciência
histórica apenas compilando dados ou compilando fatos, como disse aqui o
Vereador, que o Dr. Moysés Vellinho fez, porque simplesmente é impossível fazer
História ou elaborar uma obra de Ciência Histórica, como são a maioria das
obras de Moysés Vellinho, sem justamente e obrigatoriamente interpretar os
fatos. Isso é inevitável e, naturalmente, sempre o historiador nessa tarefa
acaba interpretando a realidade segundo a sua ideologia, seja esta ideologia
consciente ou não. O que o bom historiador faz é que ele se policia, sabendo
que ele tem uma ideologia assumida, ele se policia inclusive para que essa
ideologia não distorça pelo menos demasiadamente os fatos estudados.
Agora,
entrando nos motivos que me fazem pessoalmente aqui votar pela manutenção do
veto. A história do Brasil, meus colegas, como foi citada aqui pelo meu colega
de Bancada, Ver. José Valdir, ela tem muitos mitos. A historiografia oficial
sustenta muitos mitos. O primeiro mito começa na nossa descoberta. Quer dizer,
a afirmação de que o Brasil foi descoberto em 1500 é absolutamente
inverdadeira. É uma afirmação do ponto de vista perfeitamente europocêntrico e
etnocêntrico. O Brasil foi descoberto pelos portugueses ou pelos europeus em
1500. Se considerarmos do ponto de vista estrito, quando teriam chegado os
primeiros seres humanos no nosso território que hoje é nosso País, vamos ter
uma data de 30 mil anos atrás e, quando Cabral aqui chegou, viviam no nosso
País mais de 10 milhões de pessoas que chamamos hoje de indígenas. Portanto, o
Brasil não foi descoberto por Cabral, ele foi descoberto 30 mil anos antes.
Outro
mito da nossa história é sobre o caráter brando do nosso escravismo, a famosa
tese do sociólogo Gilberto Freire que no Brasil, ao contrário dos Estados
Unidos, o escravismo seria brando, o senhor de engenho do Brasil era bonzinho,
transava com as mulatas e tal. Ora, isso também é outra inverdade. Nós sabemos
que o escravismo brasileiro, como todo e qualquer escravismo, foi absolutamente
predatório, desumano e inclusive homicida.
Querem
ver outro mito? O mito de que os africanos foram os únicos ou principais
escravos no Brasil. Não é verdade. Pelo menos nos primeiros cem anos da nossa
história a grande massa escravizada no Brasil foi de indígenas, não foi de
africanos, e daí por diante. O fim da escravidão – este é muito comum, é ainda
ensinado nas nossas escolas – se deve a um ato magnânimo da Princesa Isabel,
esquecendo todo o enorme movimento social abolicionista que, este sim,
pressionando a realeza, a monarquia, levou à extinção da escravidão, do qual
fizeram parte Castro Alves, Joaquim Nabuco e outros tantos personagens da nossa
história.
O
povo de Porto Alegre, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, nunca precisou esperar
com todo o respeito pela Câmara de Vereadores para dar nome às ruas, aos locais
públicos. Querem um exemplo? A rua da Praia. A rua da Praia, desde 1965, por
ato desta Câmara mudou para rua dos Andradas, no entanto, para o povo de Porto
Alegre e para mim, em especial, será sempre e unicamente Rua da Praia. Assim
como Praça da Alfândega, oficialmente Praça da Quitanda, e o povo sempre
chamou, porque lá se localizava a Alfândega, de Praça da Alfândega e vai
continuar-se chamando, espero até muito depois do ano 2000. O Alto da Bronze:
Praça General Osório, sempre foi chamada de Alto da Bronze por uma senhora que
lá vivia e tinha o apelido de Bronze, e assim por diante. Parece que é uma
mulata, diz o Vereador, não tenho conhecimento. Então, o povo de Porto Alegre
não precisa, com todo o respeito, esperar pela Câmara, repito, para chamar um
lugar de um nome ou de outro, pelo contrário, a Câmara é que deve, no meu
entender modesto, se conformar com aqueles nomes que a população na sua vivência
cotidiana, prática, dá aos lugares, dá aos logradouros. Também não é verdade o
que foi afirmado aqui que nós estamos analisando a coisa do ponto de vista
sectário. Ora, está bem claro no Veto aposto pelo Sr. Prefeito, na sua
justificativa, isso foi reconhecido aqui, inclusive, por aqueles que são contra
o Veto, que o Sr. Prefeito não entrou no mérito da questão; o que o Prefeito
queria é mais discussão, ele queria abrir a discussão pública dessa
denominação, desse batismo. E isso está acontecendo aqui. Uma pena que cão
aconteceu em outros fóruns maiores para que a opinião pública conheça mais a
obra e os vários pontos de vista da obra de Moysés Vellinho. Chega dessa coisa
de se dar nomes para as vias de grandes figuras ou de grandes figurões para
locais públicos sem que o povo saiba o que aquela pessoa realmente fez. Então
eu pessoalmente agradeço ao Prefeito por esta oportunidade de poder vir aqui na
Tribuna e dizer isso que eu estou dizendo, caso contrário, já era fato
consumado.
O SR. PRESIDENTE: O Ver. José Alvarenga vai ceder seu
tempo, mas com a licença do Ver. Flávio Koutzii, então, V. Exª tem mais 10
minutos.
O SR. GIOVANI GREGOL: Obrigado, Presidente. É verdade, sim, que
essa discussão está feita com sectarismo. Querem ver um exemplo, na Zero Hora do
dia 09 do mês de fevereiro deste ano, o colunista Sérgio da Costa Franco assina
um artigo chamado Patrulha, onde encerra dizendo o seguinte: “Lamentavelmente,
comentando o Veto do Sr. Prefeito, lamentavelmente funcionou no episódio a
Patrulha Ideológica sob a modalidade mais dissimulada e hipócrita.” Repito
“mais dissimulada e hipócrita”. Quer dizer, a atitude do Sr. Prefeito foi
chamada aqui de hipócrita. Isso é ou não é sectarismo? Eu acho que o Sr.
Prefeito não merece essa qualificação pela postura que tem tido e até pela boa
orientação básica que deve merecer o Sr. Prefeito, qualquer que ele seja, seja
qual for sua ideologia, o seu partido. Vejam que o sectarismo não está partindo
de nós; o sectarismo está partindo de outros setores que dizem aqui “que foi
ação dissimulada e hipócrita daquele que quer dar o tapa e esconder a mão”.
Absolutamente, nós nem demos o tapa e muito menos estamos escondendo a mão. Já
numa outra publicação de nossa Cidade, no jornal Crônica, o colunista Pérsio
Pinto diz que este Veto foi “obra noturna dos cachorros loucos da esquerda
sectária”. Chamar de cachorro louco pessoas que têm uma posição divergente da
nossa não é sectarismo, não é baixaria. Pois eu acho que é sectarismo e é
baixaria, porque não chamo ninguém de cachorro louco, muito menos de hipócrita,
quando discordam de mim. Eu venho, como estou fazendo aqui na tribuna, discutir
com eles, contrapor os seus argumentos e jamais xingá-los com palavras de baixo
calão. Mas por que é que eu, professor de História, não gostaria que o nosso
Arquivo Histórico tivesse esse nome? Em primeiro lugar, que eu gostaria que ele
continuasse, como disse o Sr. Prefeito, com a denominação de Arquivo Histórico.
Em segundo lugar, porque estudei o Dr. Moysés Vellinho na Faculdade. Estudei.
Realmente, inegavelmente, é um escritor dos mais citados. É uma referência da
historiografia do Rio Grande do Sul; os referenciais, tanto do ponto de vista
positivo, como também, quero dizer aqui, do ponto de vista negativo. E foi isso
que o Dr. Mário Maestri, que é professor hoje da Universidade de Bolonha, na
Itália, lá lecionou por vários anos, doutor de uma universidade européia,
portanto, uma pessoa que me parece, com todo o respeito, mesmo aqueles que
discordam dele devem reconhecer a sua competência na matéria e não pichá-lo,
como foi feito aqui por alguns, o Dr. Mário Maestri, comprovando que não há
essa unanimidade da comunidade historiográfica, da comunidade científica
porto-alegrense sobre o assunto, como foi dito aqui também de forma incorreta,
coloca algumas questões de mérito que eu acho procedentes. Por exemplo, para
ficar apenas num aspecto, a visão que o Dr. Moysés Vellinho coloca na sua obra,
isso não é diz-que-diz, está escrito, Srs. Vereadores, do índio, para não falar
do negro, da mulher e assim por diante. Por exemplo, no seu livro Fronteira, de
1965, Moysés Vellinho “que a rala população do Rio Grande do Sul daquele tempo
não poderia crescer sem grave prejuízo para ascendências eletivas e sua
elaboração sociográfica com a introdução repentina de um contingente maciço de
índios inteiramente desarvorados”. Isso na obra Fronteira, 1965, página 91. Na
mesma obra, diz também Moysés Vellinho: “Os missionários – falando dos jesuítas
das nossas Missões – não puderam fugir à acabrunhadora conclusão de que as
sucessivas gerações de índios pertenciam a uma raça irrecuperável, em franca
regressão histórica! Parece que só havia uma alternativa para, de certo modo,
resguardar a sobrevivência do sangue indígena: o cruzamento com o branco.” É
contra essas coisas que eu me coloco aqui, mesmo reconhecendo a competência,
mesmo reconhecendo a posição que tem o Dr. Moysés Vellinho na nossa ciência
histórica do Rio Grande do Sul. Na sua outra obra, “Capitania Del-Rei”, na
página 71, diz: “Preando índios – preando quer dizer caçando – e
escravizando-os àqueles bárbaros – àqueles com crase, quer dizer, ao invés
daqueles bárbaros – que viviam em guerras permanentes – àqueles bárbaros que
viviam em guerras permanentes, para o Dr. Moysés Vellinho, são os nossos irmãos
platinos – e devorando-se uns aos outros – ou seja, os índios e os platinos
devoravam-se uns aos outros – os colonos – aqui ele fala dos bandeirantes, que
ele chama de colonos – se limitavam a cumprir uma lei da vida – ou seja,
escravizar o seu semelhante.” Interessante a visão historiográfica! Isso é uma
questão científica, Srs. Vereadores, não é uma questão meramente ideológica.
Aliás, eu me contraponho aqui também àqueles que dizem que ideologia não tem
nada a ver com ciência, e ciência não tem nada a ver com ideologia. Tem sim.
Elas não são a mesma coisa, mas elas tem interligações. Então, nós não podemos
concordar com isso, e não é porque Moysés Vellinho é de direita, não. Não venha
com essa conversa para cima de mim! Existem grandes historiadores de direita
que têm obras preciosíssimas. Raymond Aron, por exemplo, um dos maiores
historiadores europeus vivos, francês, um brilhante historiador conservador.
Existem grandes porcarias feitas por autores que se dizem marxistas. Não é pelo
fato de serem marxistas ou terem esse rótulo que garantem a qualidade da sua
obra. Então não me venha com esse papo de que Moysés Vellinho é de direita e o
PT é de esquerda e por isso o PT malha a proposta do nobre Ver. Isaac Ainhorn.
Não é por isso, é porque a sua obra historiográfica – e isso é ciência – tem
defeitos gravíssimos de abordagem. É por isso que defendo aqui que não se deva
dar esse nome. E esses indígenas aos quais Vellinho se refere aqui como
“indígenas acabrunhados, cuja única alternativa para sobrevivência seria o
cruzamento com o branco e justifica de certa forma a sua escravidão, esses
indígenas são os responsáveis no nosso Estado pelo que já houve de mais
brilhante em termos de civilização em nosso Estado, que são as Sete Missões
Guaranis. Esses são os indígenas que “não tinham qualquer função a não ser se
cruzarem com os brancos...”
Vejam
bem, as nossas missões jesuíticas... Os jesuítas chegaram aqui em 1626, vieram
da então região do Paraguai. Guaíra, das Sete Quedas, é uma Cidade fundada, é
uma Missão Guarani. Fugiram sempre, expulsos sempre pelos bandeirantes que
buscavam escravizar os indígenas guaranis, catequizados, cristãos, portanto,
seus irmãos de religião porque preferiam, segundo eles, escravizar o índio já
domado na agricultura, domados por eles, pelos jesuítas, acostumados à
agricultura, do que o índio do mato, bugre, que vivia principalmente da caça e
da coleta e não se submetia tanto ao trabalho escravo das plantações. Portanto,
expulsos de lá vieram em 1640 ao Rio Grande do Sul e depois, por ataque
sistemático dos bandeirantes fugiram por outro lado do Rio Uruguai, porque
havia um ou dois jesuítas em cada redução de milhares de pessoas. Os trabalhos,
a mão-de-obra, as esculturas, as músicas que foram escritas naquela época e que
hoje constam nos arquivos do Vaticano, por exemplo, também de Madri, eram todas
feitas por indígenas aos quais “não restava qualquer alternativa senão se
cruzar com o branco para poder sobreviver”.
Então,
quando os jesuítas fugiram daqui eles deixaram o gado do Rio Grande do Sul, que
se espalhou pelo pampa e que deu origem ao que hoje é o Rio Grande do Sul. O
gaúcho só é gaúcho como ele é, porque o gado aqui foi deixado, foi abandonado
nos nossos campos pelos jesuítas e pelos índios que fugiram dos barbarismo dos
bandeirantes na época. Vejam a função fundamental, civilizatória, justamente
desses índios. Em 1682 retornaram, cruzaram novamente o rio e fundaram os Sete
Povos: São Borja, São Nicolau, São Miguel. São Luiz Gonzaga, São João Batista,
São Lourenço e Santo Ângelo. Nessas cidades se fazia uma agricultura de alta
qualidade, ali se plantavam os ervais, me parece que a erva-mate tem muito a
ver com a tradição, com a criação do homem gaúcho, como inclusive
historiografou Moysés Vellinho. Ali se instalaram os primeiros ervais no nosso
Estado e ali se fundiu pela primeira vez o ferro que deu origem aos sinos que
até hoje alguns deles foram conservados nas Missões.
Então,
para concluir Sr. Presidente, um povo desse porte, uma tarefa gigantesca, dessa
magnitude, que os nossos indígenas fizeram no nosso Estado, conformando
inclusive a nossa história, a nossa própria forma de ser gaúcho, um povo desses
não pode ser tratado, do ponto de vista científico, estritamente científico,
como foi tratado em alguns momentos na obra de Vellinho. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ver. Wilson Santos, Relator, V. Exª tem
20 minutos.
O SR. WILSON SANTOS: Sr. Presidente, Srs. Vereadores...
O Sr. Isaac Ainhorn: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Sr. Presidente, nobre Vereador que se encontra na Tribuna,
evidentemente que isso aqui é uma Casa política, mas ensejou um debate
cultural. Acho que as preocupações que o Ver. Gregol coloca são sérias, são
relevantes, só que o autor, o escritor Moysés Vellinho escreve exatamente o que
o Ver. Gregol está afirmando em relação ao índio e, ainda há pouco, alguém me
disse aqui que ele ignorou o negro na formação da história. Pegaram um artigo
que fala sobre a obra de Moysés Vellinho, não sei se o autor leu Moysés Vellinho,
parece que não leu, porque ele diz exatamente o contrário. Ele faz uma análise
aqui do índio na vida rio-grandense, Ver. Wilson Santos, que são páginas
perfeitas com relação a essa formação e reconhece exatamente esse papel. Vejam
aqui nesse ensaio o Rio Grande e o Prata, Contrastes.(Lê.)
E
depois aqui segue. Só para não usar mais do tempo que V. Exª me concede. Aqui
vem toda uma análise, o que eu queria referir exatamente nesta obra é toda uma
análise da participação do indígena e do negro na formação do nosso Estado.
Então, se há divergência, até posso admitir, na análise da participação do
índio na construção das missões jesuíticas, tudo isso, evidentemente, é matéria
polêmica, tanto é que o subtítulo da obra é exatamente este, Vereador:
“Aspectos Polêmicos da formação Rio-Grandense” Então, evidentemente, o livre
debate de idéias, Ver. Wilson Santos, enseja, exatamente, que haja um debate em
torno dessa figura, mas não há de se desconhecer a grande figura que foi na
vida desta Cidade e do Estado, ainda que nós possamos não concordar com algumas
posições que ele coloca, até eu próprio divirjo de algumas concepções, mas não
quer dizer que eu não poderia ser o autor desta homenagem. Sou grato Vereador.
O SR. WILSON SANTOS: Eu acolho o seu aparte. Tudo o que está
ocorrendo, nesta tarde, nesta Câmara, evidencia por si só o valor do mérito do
homenageado.
Eu
quero fazer uma colocação, acreditando que a Bancada do PT parece que está
incorrendo numa desobediência e uma desobediência, na minha opinião, natural, porque
está contrariando o Prefeito Olívio Dutra. O Prefeito Olívio Dutra não
autorizou – é evidente que não precisa autorizar, mas não autorizou o PT a
debater esta matéria.
Mas,
ao dizer isto, eu quero elogiar a Bancada do PT, porque prova que não é uma Bancada
cabresteada, porque ensejou o debate que o Prefeito não queria. E eu digo isso
na condição de Relator do Processo, porque recebendo da Comissão de Educação a
missão de emitir parecer sobre a matéria, evidentemente, que me imbui, como de
resto em todos os assuntos desta Casa, da responsabilidade inerente à emissão
de um parecer. Como já tinha convicção prévia do valor e da figura de Moysés
Vellinho, me preparei para me deparar com razões consubstanciosas num Veto. E
qual a minha surpresa, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, com todo o respeito
que tenho pelo Sr. Prefeito, me frustrei, porque pensei que deveria fazer um
verdadeiro tratado para provar o mérito de Moysés Vellinho, mas ao analisar as
razões do Veto vi como se preocupou o Sr. Prefeito em dizer que não nega o
valor e o brilho intelectual deste ilustre filho do nosso Estado.
Mas
ele diz: “A concessão do nome de um cidadão a um órgão público do porte e
importância do Arquivo Histórico de nossa Capital, há de ser fruto de um debate
amplo e profundo com toda a coletividade”.
Desconsidera
os Vereadores que compuseram esta Câmara, como uma função não-delegada e não
representativa, porque quando ele opõe um veto dizendo que quer um amplo e
profundo debate com a coletividade, ele desconsidera a decisão por unanimidade
da Câmara de Vereadores, da composição da Câmara que nos antecedeu.
Mais
adiante ele repete, vejam a preocupação do Prefeito quando ele diz: “Não se
negam os méritos do homenageado, que poderá vir a ser o nome do Arquivo
Histórico, porém essa decisão deverá nascer de consulta e debate”.
Olhem
a que me refiro, Ver. Adroaldo Corrêa, é que como ficou fácil redigir um
Parecer pela fragilidade das argumentações do meu querido amigo Olívio Dutra, o
que prova que ele nem procurou a Bancada, porque se tivesse procurado a Bancada
do PT, com esse valor, inclusive com o valor intelectual, cultural, demonstrado
pelos Vereadores que desfilaram por esta tribuna, ele não teria assinado um
Parecer, me perdoe o termo, tão anêmico. Por que repetir o calor, o mérito, o
brilho intelectual de Moysés Vellinho, e considerá-lo contrário ao interesses
público, a mim me parece uma incoerência, uma falta de nexo. Eu ainda vou
advogar, aqui, porque conheço Olívio Dutra, e sei que só pode ser uma falha
daqueles assessores específicos para matéria desse teor, que andaram mal,
assessoram mal o Prefeito.
Não
tenho razões para o Veto, eu encaminhei para o exame nesta Casa o Parecer que
faço questão de ler.
(Lê
Parecer. Proc. nº 0880/88, Veto Total ao Projeto de Lei do Legislativo nº
057/88.)
E, aqui, para finalizar é que quero chamar a atenção, eu entendia, Sr. Presidente e Srs. Vereadores que havia pelo menos intenção, porque não se pode aqui entrar em discutir honestidade de propósito, intenção. Fiquei perplexo e quero dizer que realmente me causou espécie que o Prefeito tenha escolhido este tema: Moysés Vellinho, para declarar uma intenção de provocar amplo e profundo debate com a coletividade. E eu parei, refleti, meditei e não tive dificuldade em arrolar o seguinte: “Letra A – Não tive notícia alguma de amplo debate ou ampla consulta popular para fixação de um índice digno de aumento para o Funcionalismo Municipal.”
Eu
pergunto: É um assunto importante para a vida de Porto Alegre, porque o
funcionário municipal é o que sustenta a máquina e a contra-prestação de
serviço para o povo. Não houve amplo e profundo debate com a coletividade.
“Letra
B – Não houve debate amplo e profundo com a coletividade para o fechamento da
Avenida Beira Rio.”
Ora,
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, foi construído com o dinheiro público um
acesso para a Zona Sul, de vital importância. O meu amigo Prefeito Olívio
Dutra, num gesto autoritário, porque não seria autoritário se ele fizesse, e eu
repito, um debate amplo e profundo com a coletividade.
O Sr. Giovani Gregol: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Nobre Vereador, o Prefeito Olívio Dutra foi absolutamente correto
quando fechou aos fins de semana, e fiel aos seus compromissos, a Av. Beira
Rio. Assim o prometeu através dos meios de comunicação e em todos os comícios
que fez durante a sua campanha. Disse que, se eleito fosse, assim o faria. E
foi amplamente apoiado através da votação pela população de Porto Alegre.
O SR. WILSON SANTOS: Eu fico feliz, porque um missioneiro, um
homem com origem nas Missões, não por ser daquela região, porque todo o gaúcho
é um homem de palavra, mas, fundamentalmente naquela região, a pessoa quando
empenhava um fio de barba ou de bigode e não podia cumprir, a pessoa se matava
de vergonha. Então, não seria diferente. Ele comprometeu a palavra dele, na
eleição , de que fecharia a Av. Beira Rio. Aí, eu dou o mérito, mas eu volto a
falar sobre a incoerência dele, porque não fez amplo e profundo debate com a
coletividade e fechou a Av. Beira Rio. Não houve amplo e profundo debate para
paralisar as obras do Museu do Trabalho. Não houve amplo e profundo debate com
a comunidade para suspensão de funcionamento do centro de formação de
mão-de-obra, não houve debate amplo e profundo com a coletividade para a paralisação
das obras do Ginásio Municipal; não houve debate amplo e profundo com a
coletividade para o término do período integral do CIEM. Não há, pois, nesses
90 dias, nenhum amplo e profundo debate, como não houve a primeira razão do
Prefeito, que queria amplo e profundo debate. Eu entendi que eu estava sendo
justo e honesto em dizer que eu não poderia aceitar as razões do Veto, porque
ele estava se contradizendo. No outro efeito, do contrário ao interesse
público, eu também tive que contra-argumentar, porque ele não nega o mérito.
Ora, se há mérito e o Prefeito não ensejou para nada amplo e profundo debate,
eu entendi que eu estava cumprindo a minha missão de dar um parecer e
encaminhar para discussão nesta Casa. Só que aqui vem a minha felicidade: se
houve essa debilidade nas razões do Veto, eu fiquei feliz, porque a Bancada do
PT ensejou um debate, e o mesmo, na minha opinião, só revigorou o valor do nome
de Moysés Vellinho, porque se não tivesse mérito, se ele fosse um ilustre
desconhecido, ou alguém que não tivesse colocado o valor intelectual, cultural,
e o próprio valor como pessoa, não se teria passado a tarde toda debatendo o
nome de Moysés Vellinho. Por isso eu não vou utilizar depois os 5 minutos que o
Partido Liberal tem para encaminhar.
Encaminho,
pedindo aos Vereadores, e incluindo a Bancada do PT – por que não? –, pois já
contrariou o Prefeito, debatendo, e poderá ter a mesma liberdade – e estou
falando no sentido de ter independência – de não simplesmente repetir amém ao
Veto, e reestudar um voto “sim”. No Veto, quando se rejeita o Veto, se vota
“sim”, porque não se vota o Veto e sim o Projeto.
Então
eu encaminho, já por antecipação, dizendo que os Vereadores entrem na cabine
indevassável, apanhem o cartãozinho que diz “sim”, e coloquem o “sim” na urna,
porque “sim” significa “sim” ao Projeto e rejeição ao Veto. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Com a palavra, o Ver. Heriberto Back.
O SR. HERIBERTO BACK: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu até
pergunto aqui, dos Srs. Vereadores, quem leu este tão falado Moysés Vellinho?
Sei que o Ver. Zanella não leu.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª está enganado. Já começou se
enganado.
O SR. HERIBERTO BACK: Antonio Hohlfeldt é amigo pessoal do
Moysés Vellinho. Eu vou ler apenas um trecho aqui do Moysés Vellinho, até para
aqueles que já o tenham lido, sobre toda essa questão do racismo: “Como não
podia deixar de ser, também tivemos a incidência do sangue africano, e não
apenas no âmbito estreito, doméstico, nem só no serviço das charqueadas. Os
trabalhos do campo contaram igualmente com o braço negro, embora em proporção
discreta, mas isso não impediu que ele se tornasse um bom campeiro e um bom
soldado.” Mais adiante, ele diz: “O sangue indígena que se misturou ao daqueles
pioneiros não foi suficiente...” (Pausa.) Eu vou pedir a atenção dos Srs.
Vereadores para o que está escrito aqui. E é o livro do Moysés Vellinho que
estou lendo, não estou lendo o Artigo do Mário Maestri, nem as ponderações do
Pilla Vares, que não foram alegadas aqui. Quem diz isso é o Moysés Vellinho, em
“Capitania Del Rei”, página 213: “O sangue indígena que se misturou ao daqueles
pioneiros não foi suficiente para comprometer o sentido orgânico de vida
imanente... Até pesou na concorrência com o padrão dominante”.
Eu
não sei que padrão dominante, o Ver. Isaac conhece, sobejamente. O PT parece
que, acusado de não debater, mas quando lê o Moysés Vellinho para trazer ao
debate, o próprio Ver. Isaac não está ouvindo. Eu não sei em que padrão está-se
falando. O fato é que ao longo do livro está colocando uma comparação entre o
gaúcho brasileiro e o gaúcho argentino e dizendo que lá na Argentina – está
dito aqui – aquele argentino não tem o valor de cá, porque teve uma
miscigenação maior. É o que está dito. Fala no padrão dominante, na raça mais
bem dotada...
O Sr. Dilamar Machado: Parece coisa de alemão...
O SR. HERIBERTO BACK: É, parece coisa de nazista, não de
alemão, e nazismo não é coisa particular de alemão. Nazismo tem nos americanos,
tem aqui nos brasileiros também, e na própria raça judia tem comportamento
nazista também. Então, não é particularidade. Em qualquer raça...
O Sr. Isaac ainhorn: V. Exª está-se contradizendo, então...
O SR. HERIBERTO BACK: Eu não concedi o aparte, por enquanto. Eu
fiz essa observação porque neste momento, no mínimo Moysés Vellinho é
controverso. No mínimo ele poderia até ser nome de rua, nome de uma praça até.
Tem tantas figuras controvertidas com nomes de ruas e de praças, agora o
Arquivo Histórico de Porto Alegre? No mínimo teria que ser um nome que tivesse
unanimidade, por exemplo, um Érico Veríssimo, esse tem unanimidade, esse
consegue valorizar o gaúcho, valorizando o índio, valorizando todas as raças
que compõem o povo brasileiro, o povo gaúcho. E a mulher como a Ana Terra, a
Bibiana, quer dizer...
O Sr. Isaac Ainhorn: Que são da raça rio-grandense.
O SR. HERIBERTO BACK: Sim, mas compostos de quê? De brancos, de
índios e negros. No mínimo estou dizendo que Moysés Vellinho não tem a
unanimidade e este debate está demonstrando e este Veto teve o mérito de trazer
este debate a esta Casa e estamos debatendo aqui seriamente. Uma coisa ficou
constatada neste debate aqui hoje, não tem a unanimidade para ter o nome do
Arquivo Histórico que tem que ser a síntese da nossa história. Érico Veríssimo
teria. Então, quero ponderar essas questões e bem no momento em que o índio
brasileiro deveria ser visto como modelo de civilização, não só os guaranis
como os índios da Amazônia. Se nós seguíssemos o exemplo dos índios no trato
com a natureza, não estaríamos nesta maldita sociedade que é chamada de
civilização branca e que a eles chama de selvagens e de responsáveis pela
degeneração da raça. Não estaríamos na situação em que estamos hoje de total
depredação da natureza; e só para dar um exemplo, nesta cidade de Porto Alegre,
esta civilização branca que os acusa de selvagens, quando temos uma sociedade
que usa o seu rio, o rio Guaíba como se fosse a piscina da sua Cidade, onde
joga todos os esgotos, todas as porcarias, todos os venenos. Esta é a
civilização branca que acusa os outros de selvagens. Então, no mínimo é um
desrespeito ao índio que neste momento poderia ser um modelo de uma
civilização, um modelo que a sociedade branca precisa para não se
auto-destruir.
O Sr. Isaac Ainhorn: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Vereador, volto a dizer, o debate é importante, o Veto do Sr.
Prefeito fez com que aquilo que foi unânime na Legislatura anterior trouxesse o
debate através de uma combativa e expressiva Bancada que tem hoje o Partido dos
Trabalhadores nesta Casa, faz parte do jogo democrático este debate que está
havendo agora.
Mas,
o que não concordo é que queira transformar um escritor que goza de um
respeito, pode até nas sus análises ter incorrido em erros, em equívocos na
análise da formação do Estado Rio-grandense. Agora, não pode se transformar
essa questão numa rejeição à figura de um homem como foi Moysés Vellinho. V.
Exª está pinçando um texto específico lá da obra Capitania, não fazendo o que
se está fazendo aqui, está pinçando partes de textos tirados de uma obra, sem
uma análise do conjunto. V. Exª sabe. Se V. Exª não conhecia a obra, tomou
conhecimento da obra através de um empréstimo que lhe fiz do livro, foi lá e
pinçou, segundo o parecer do Pilla Vares alguma coisa que não estava, que
falava exatamente nessa questão de supremacia de raças ou envolvendo essa
questão de discussão de raça. Mas o próprio Érico Veríssimo, se V. Exª leu “O
Tempo e o Vento”, “O Continente”, “O Retrato”, “O Arquipélago”, vai constatar
dezenas de referências à raça indígena, à raça negra, e até de repente alguns
discursos, na boca de português, depreciativos, evidente. Mas V. Exª não leu o
livro. Sou grato.
O SR. HERIBERTO BACK: Eu agradeço o aparte do Ver. Isaac
Ainhorn. Mas quero dizer eu não pincei nada desse texto. Eu li, são páginas
inteiras desse livro, e que se for necessário dá para ler mais um pouco. E
ninguém usa as expressões que ele usou por acaso. Eu não tirei uma frase, uma
palavra no meio do texto, eu li duas páginas inteiras.
O SR. PRESIDENTE: Vereador, o Ver. Décio cedeu o tempo a V.
Exª, que tem mais 10 minutos.
O Sr. Leão de Medeiros: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Ver. Heriberto Back, eu queria me congratular com V. Exª, porque V.
Exª abre o debate, abrilhanta o debate em torno da figura de Moysés Vellinho.
Mas esta Casa se enriquece muito mais com o saber da sua capacidade de efetuar
críticas literárias em tão pouco espaço de tempo como fez agora. Pinçou a obra
Capitania del Rei que lhe foi apresentada pelo Ver. Isaac Ainhorn, uma pequena
passagem da sua obra e disse como para deslustrar todo o passado intelectual e
a cultura de Moysés Vellinho em tão pouco espaço de tempo, contradizendo até
ilustres figuras que deram a Moysés Vellinho o título de Honoris Causa da
Universidade que o senhor cursou por longo tempo. Por isso que me congratulo
com V. Exª: tem uma capacidade desse tamanho para dar uma demonstração de
crítica a obras literárias.
O SR. HERIBERTO BACK: Quero dizer a V. Exª que essa não é uma
obra de ficção, não é uma obra literária, essa aqui é uma obra que faz uma
apreciação concreta de passagens de nossa história e da formação do gaúcho, e é
muito claro.
Não
sou nenhum crítico literário – acontece o seguinte: aqui há um, com todos os termos,
e eu me vali de um artigo do Prof. Mário Maestri, que seguramente é uma
autoridade e peguei a partir de sua apreciação, fui buscar no livro. E no livro
aqui tem duas páginas inteiras. Eu não pincei nada. Há concretamente uma
apreciação sobre o negro; que o gaúcho não ficou tão ruim quanto o argentino,
porque o negro teve uma pequena contribuição; que o gaúcho não ficou tão ruim
quanto o argentino, porque a contribuição do índio foi muito pequena, não
conseguiu destruir o padrão dominante, está escrito aqui, não pincei, tem duas
páginas inteiras.
O Sr. Vicente Dutra: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Vereador, evidente que esta Câmara hoje se transforma numa Academia
Literária. O debate literário foi trazido a esta Casa, mas de forma muito
superficial. Eu confesso que não sou entendido em Moysés Vellinho, mas não sou
daqueles que cultuam e lêem ardorosamente suas obras. Agora, leio Érico
Veríssimo. E V. Exª fala em Érico Veríssimo. E o Vereador que o antecedeu, o
Ver. Giovani Gregol, coloca como motivo para depreciar a homenagem que esta
Casa quer apresentar a Moysés Vellinho a subestimação da mulher como valor
histórico dentro da cultura rio-grandense. Ora, isso não é de Moysés Vellinho,
isso é da história e muito bem apanhado por Érico Veríssimo, porque a Ana Terra
e a Bibiana são ficções. Dentro da obra épica o Tempo e o Vento em que ele
relata a história do Rio Grande do Sul – toda a trajetória do Rio Grande do
Sul, do gaúcho, ele entremeia com ficção. Evidente que a Ana Terra é uma
ficção, Bibiana é uma ficção também. A mulher, essa mulher mesmo que o Ver.
Giovani Gregol aponta aqui que Moysés Vellinho soube muito bem apanhar, ela só
sabia esperar e só sabia sentir o vento, esperar e botar filho no mundo. Agora,
nós somos culpados disso? Moysés Vellinho é culpado disso? Essa é a história.
Não sei de onde estão tirando, querem agora modificar ao bel-prazer de uma
ideologia a figura que era assim. Depois foi modificada, evidentemente. Tivemos
grandes mulheres e hoje é um orgulho para o Rio Grande do Sul a mulher gaúcha,
lutadora. Mas, naquela época ela esperava o guerreiro que ia lutar para
defender nossas fronteiras e colocava um filho no mundo. Essa é a posição.
Reiteradas vezes é colocada em obras literárias por outros grandes historiadores,
entre os quais cito a V. Exª Érico Veríssimo, confirmando Moysés Vellinho.
Muito obrigado.
O Sr. João Motta: V. Exª permite uma aparte? (Assentimento
do orador.) Eu gostaria de registrar a minha surpresa com algumas afirmações
que estão sendo feitas neste debate que é, de fato, um debate sobre a
literatura e a cultura. Eu estava achando que era só o cronista Sérgio da Costa
Franco que possuía memória curta quando fez, hoje, na sua crônica na Zero Hora
uma comparação mecânica entre o possível patrulhamento ideológico do PT e o
patrulhamento ideológico que ocorreu neste País à época da ditadura e da
repressão política. Mas vejo que não é só ele, que alguns Vereadores também
possuem memória curta ou, então, possuem uma posição equivocada mesmo sobre o
conteúdo da produção literária de alguns escritores do Rio Grande do Sul.
Parece-me evidente que a grande síntese da obra historiográfica do Moysés
Vellinho, e não a única, é trabalhar durante todos os seus escritos com uma
visão de homem e de mulher sob o ponto de vista discriminador. Portanto, quando
o Moysés Vellinho trabalha os seus personagens, ele faz concretamente
discriminações e estabelece, inclusive, personagens submissos, sob o ponto de
vista do sexo, da raça e da nacionalidade. Essa é a grande característica da
obra do historiador Moysés Vellinho. Agora, não é, de fato, a única
característica. E aqui é bom se frisar e fazer justiça à obra literária de
Érico Veríssimo. A grande característica da obra de Érico Veríssimo é
exatamente o avesso disso, agora, isso não quer dizer que toda obra literária,
toda produção artística não tenha uma singularidade. Portanto, é possível que,
num acaso, ou apenas parcialmente, até o próprio Moysés Vellinho tenha, através
dos seus escritores, em algum momento, colocado algum personagem sem esse ponto
de vista discriminador ou submisso; agora, na totalidade, é discriminador e são
submissos os personagens desse escritor e é por isso que nós estamos colocando
no debate que essa síntese nos parece que o arquivo, ou seja, a memória
histórica do Município não deve ter.
Agora,
se fosse a síntese da produção e da obra literária de Érico Veríssimo me parece
que ela é evidentemente universal, é muito mais universal.
O SR. HERIBERTO BACK: Agradeço ao aparte do Ver. João Motta.
O Sr. Giovani Gregol: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Queria dizer, Sr. Presidente, afirmar aqui que nos bancos da
faculdade eu li, não só li como estudei Moysés Vellinho. Como um modesto
estudante aprendi alguma coisa, tenho esta pretensão. Também li a obra de Érico
Veríssimo. Mas da discussão surge a luz.
O SR. PRESIDENTE: Ver. Gregol, neste momento são 18h15min,
nós temos que prorrogar a Sessão por mais duas horas se necessário for. Os
Vereadores que aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO. Vamos
descontar um minuto de V. Exª.
O SR. HERIBERTO BACK: Só pediria ao Ver. Gregol que fosse
rápido, pois tenho que concluir.
O Sr. Giovani Gregol: Da discussão surge a luz. Nós tivemos a
oportunidade de assistir aqui o nobre Ver. Isaac Ainhorn que, defendendo
legitimamente a sua postura, lendo, pinçando, e aliás, eu queria dizer que não
se pinça o que não existe, pinçando e lendo uma parte da obra de Moysés
Vellinho, justamente confirmou aquilo que eu dizia aqui, onde Moysés Vellinho fala
da infantilidade do negro que não tinha capacidade nem de ler as notas
musicais.
Mas
queria dizer, Ver. Isaac Ainhorn, que a obra, ao contrário do que diz V. Exª, e
acho que V. Exª leu o livro, talvez não se recorde bem, ao contrário, Érico
Veríssimo faz nessa obra um apanhado crítico do racismo brasileiro, inclusive o
racismo que se expressa também na historiografia gaúcha. Porque, segundo ele,
criticava a situação de opressão que vivia a mulher gaúcha, mas o seu maior
personagem é uma mulher, Ana Terra, e outra, Bibiana, que sempre se insurgiram
contra a opressão machista e o destino, e são as principais personagens do
livro e quando Érico Veríssimo põe na boca de um português, quando põe na boca
de um luso-brasileiro um discurso racista, Érico Veríssimo jamais o faz, ao
contrário do que afirmou V. Exª, para apoiar essas pretensões, mas sempre o faz
para criticar esse ponto de vista.
Portanto,
não me venha agora, depois de Moysés Vellinho, dizer que também Érico Veríssimo
tinha um ponto de vista racista na sua interpretação da história do Rio Grande
do Sul, da qual ele era um dos maiores estudiosos, Érico Veríssimo.
O SR. HERIBERTO BACK: Sou grato pelo aparte de V. Exª e peço
licença à Mesa, só para concluir.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa lhe concede um minuto, Vereador.
O SR. HERIBERTO BACK: Para dizer que acho plenamente válido
tanto este debate quanto outras moções que surgem aqui onde o debate ideológico
se fere nesta Casa. Eu acho extremamente válido e oportuno debater isso, aqui,
hoje, apesar da acusação de que o Back não pode se meter em questões
literárias, porque ele não conhece...
Quero
dizer que também acho plenamente defensável a posição de quem defende inclusive
ideologicamente Moysés Vellinho, a ponderação que faço é que para o Arquivo
Histórico, que é onde tem que estar a síntese da História do Rio Grande, um
nome polêmico como esse fica difícil. Esta é a posição que estou defendendo.
Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Encerrada a discussão. Em votação. A
votação é secreta. Convido os Vereadores Leão de Medeiros e Cyro Martini para
escrutinar a votação. Solicito ao Sr. 1º Secretário que proceda à chamada
nominal para a votação.
O SR. SECRETÁRIO: (Após proceder à chamada.) Votaram 32
Srs. Vereadores, Sr. Presidente.
(É procedido o
escrutínio.)
O SR. PRESIDENTE: APROVADO o Projeto, derrubado o Veto por 20 votos SIM
e 12 votos NÃO.
A
Mesa informa que deferiu Requerimentos de autoria dos Vereadores Mano José e
Vicente Dutra, solicitando que os Projetos nºs 162/88 e 115/82,
respectivamente, sejam desarquivados e retomadas ou renovadas as tramitações
regimentais.
O SR. PRESIDENTE: Sobre a Mesa, Requerimento de autoria do
Ver. Vieira da Cunha, solicitando que o Processo nº 2864/88, PLE nº 171 seja
considerado em regime de urgência e submetido à reunião conjunta das Comissões
de Justiça e Redação e de Educação e Cultura. Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam
sentados. (Pausa.) APROVADO.
Serão
colocados em votação o Requerimento do Ver. Wilton Araújo, de Voto de
Congratulações com a Prefeita Municipal de São Paulo, Luiza Erundina, por ter
concedido reajuste de 273 % para o funcionalismo municipal nos dois últimos
meses.
Para
encaminhar, Ver. Clóvis Brum.
O SR. CLÓVIS BRUM: Pois é, Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
andou bem o Ver. Wilton Araújo, muito oportuno, muito feliz com a iniciativa da
Câmara de Porto Alegre, a bicentenária Casa do Povo gaúcho, de chegar até a
Capital de São Paulo para externar a S. Exª a Prefeita Luiza Erundina as
congratulações e o reconhecimento desta Casa, pelo esforço que faz a
responsável pela Administração Municipal de São Paulo do Partido dos
Trabalhadores...
O Sr. Wilson Santos: Encaminhe também pelo PT, Ver. Clóvis
Brum.
O SR. CLÓVIS BRUM: ... de dar um aumento de 273%. Realmente,
tenho a impressão de que pelo menos com o funcionalismo público da Capital
paulista a Administração do PT naquela cidade resgata esse compromisso,
estabelece o índice percentual de 273% de aumento ao funcionalismo. E não é por
acaso que o Ver. Wilton Araújo apresentou o Requerimento congratulatório com o
PT. Não é simplesmente uma ação isolada ou política, não, é mais do que isso,
Sr. Presidente. É para mostrar ao Rio Grande e ao País que a Srª Erundina,
mesmo representando o PT, deu aumento condigno aos seus trabalhadores
municipais. Porque outras Administrações do PT não estão tendo igual sorte, ou
quem sabe disponibilidade, segundo os seus estudos, que não são os meus, de dar
um percentual mais justo ao sofrido funcionário municipal. Por esses motivos,
nós encaminhamos favoravelmente, esperando, finalmente, Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, que o gesto de Luíza Erundina sensibilize a Administração do PT
aqui em Porto Alegre. O gesto corajoso e de todo invejável da Prefeita de São
Paulo, por certo haverá de ter ressonância nas idéias financeiras do Governo
Olívio Dutra. Sei que não é fácil dar um aumento, mas sei que não foi difícil,
tanto que a Prefeita de São Paulo deu esse aumento – 273% de aumento para os
trabalhadores da Prefeitura de São Paulo. Eu acho que é um aumento que merece
este Voto de Congratulações. É justo que não se vote este em bloco com os
demais Requerimentos, mas que os Anais da Casa registrem que o PMDB, que o PDT,
que as demais Bancadas estão satisfeitas, estão felizes nesta tarde por poderem
fazer com que a Câmara de Porto Alegre se congratule com um mandatário, com uma
autoridade administrativa dos quadros do PT. Isso é para provar que a gente não
é contra o PT. É para provar que somos a fazer deles, tanto que estamos, de
público, reconhecendo o trabalho exemplar da Prefeita de São Paulo. Depois eles
dizem: “todo mundo fica contra o PT, todo mundo fica metendo o pau no PT”. Não,
hoje a tarde é de reflexão, é de aplausos para o Partido dos Trabalhadores, em
São Paulo, para a Prefeita Erundina. Mas haverá o momento, Ver. Elói Guimarães,
que nós vamos, aqui desta tribuna, quem sabe, até aprovar, Ver. Artur Zanella,
um voto de Congratulações com o Prefeito Olívio Dutra. Basta que ele tome o
exemplo da Prefeitura de São Paulo em relação aos funcionários Municipais.
Hoje, as palmas são, sem dúvida, para a Prefeita da São Paulo, Luíza Erundina,
que dá aos seus funcionários 273% de aumento. Meus parabéns, Ver. Wilton
Araújo. Foi feliz V. Exª. E meus parabéns à Casa, que vai votar por unanimidade
e tenho certeza de que o PT deve encaminhar favorável também, já que se trata
de um assunto que diz de perto os seus quadros partidários. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Encaminha, pelo PT, o Ver. Flávio Koutzii.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. A nossa
gratidão pelo reconhecimento, a nossa evidente associação a isso, mas sempre
esse tom shakesperiano do Ver. Clóvis Brum: palavras, palavras, palavras, às
vezes não têm a devida consistência.
O Sr. Clóvis Brum: Não seja injusto comigo.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Pelo seguinte detalhe: na verdade o
culpado de tudo é o Ver. Wilton de Araújo. Já vou explicar do que se trata, e é
a única razão por que venho à tribuna e aí estou prestando homenagem ao PDT. É
que realmente pior do que a situação que nos encontramos, infinitamente mais
complicada a nível do salário dos municipários é a que o Jânio deixou. O Jânio
não deixou aprovado nos últimos dias esse plano de carreira e salários que nós
temos debatido aqui. Conseqüentemente, a Prefeita Erundina, logo ao assumir o
Governo, praticamente na primeira semana, decretou um aumento de 125% de plano
e em cima desse aumento ela agregou, recentemente, ao final de fevereiro outro.
Isso levou aos 273% - Se nós raciocinarmos com 183% que o plano aprovado em
dezembro outorgou, implicando em 236% para os salários mais baixos, nós
chegamos a 253% com esta proposta tal como ela está colocada aí. Eu penso com
isso que podemos pedir uma certa carona no vosso aplauso e no vosso
reconhecimento. Obrigado.
(Revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Encaminha, pelo PDS, o Ver. João Dib.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
evidentemente, o Ver. Flávio Koutzii sempre coloca a verdade e porque ele fala
a verdade vou ter que requerer acertos nos meus proventos, porque eu não recebi
183% de aumento, mas como o Ver. Líder do PT diz assim, eu vou pedir. Porque o
Secretário da Fazenda também disse hoje, mas eu resolvi poupar o Secretário da
Fazenda. E como o Ver. Flávio Koutzii acreditou nele, eu acho que ele tem
argumentos bastantes para isso. Mas eu penso, Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
já demonstrei isso, eu acho que a Prefeitura tem todas as condições de atender
a Lei Complementar nº 186 e então ir na carona do Voto de Congratulações
proposto pelo Ver. Wilton Araújo. Eu mostrei aqui que a Câmara tem dados, tem
aprovado um orçamento que não era fictício, um orçamento que só para o CIEM
aumentou nos três primeiros meses 1040% dando, portanto, à Prefeitura, a tranqüilidade
que ela precisa. O orçamento no conjunto todo da Prefeitura, somados as
autarquias e a Administração Centralizada, um orçamento nominal de 200 milhões
de cruzados, que reserva desses 200 milhões, 100 milhões para o pagamento do
funcionalismo. Evidentemente, se cresce a arrecadação, cresce também a despesa,
e se cresce a despesa, cresce a despesa com o funcionalismo. Então, para que o
nosso Prefeito Olívio Dutra mereça desta Casa o aplauso, ele que apenas faça
cumprir a Lei Complementar nº 186, que no mínimo determina aos servidores
municipais um pagamento e um reajuste de mais 40 por cento e 36 centésimos, um
reajuste bimestral, e aí ele vai receber, mas de qualquer forma eu vou revisar
os meus proventos, porque eu não recebi 783%. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Vereador do PTB, Ver. Luiz Braz.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, duas
medidas que foram tomadas pela Prefeita de São Paulo e que contrastaram com as
medidas tomadas pelo Prefeito de Porto Alegre, mesmo Partido. Mas na questão do
transporte coletivo, ela preservou o transporte coletivo. Ela fez com que o
transporte coletivo em São Paulo pudesse continuar rodando normalmente, e
quando ela deu aumento, Ver. Vieira da Cunha, para o transporte coletivo, não
sei se V. Exª está recordando, mas ela teve a sua situação dentro do PT
discutida. Muitas correntes radicais do PT diziam naquela época que a Prefeita
Erundina estava traindo os princípios petistas. E surgia até um comentário – eu
passava por São Paulo naquela época – de que a Prefeita Luiz Erundina deveria
até deixar o PT, a exemplo do que aconteceu com aquela Prefeita de Fortaleza
quando começou a tomar algumas medidas que não agradavam a linha de pregação do
PT. Agora vem outra medida da Prefeita Erundina que contraria aquela linha
pregada pelo PT, pelo menos aqui em Porto Alegre. Ela dá um aumento de 276%,
enquanto que o PT aqui dá um aumento de 20%. Nós, é claro, e dizia muito bem o
Ver. Vicente Dutra, abriríamos mão de 200% deste aumento. Nós só queríamos que
o funcionalismo público municipal tivesse o direito aos 76%, que é o que a
inflação indica e o que estaria cumprindo a lei que foi votada por esta Casa no
final do ano passado, que diz que os aumentos devem ser bimensais e devem ser
corrigidos de acordo com os índices da inflação dos dois meses anteriores. E
infelizmente o que acontece aqui em termos de Porto Alegre é completamente
contrário a isso. O que acontece aqui é que existe uma proposta atualmente de
25%, houve uma inicial de 20%, agora uma de 25% e isso é o máximo que o PT diz
que pode dar. Infelizmente o Líder do PT, por quem eu tenho uma alta
consideração, vem quase fazer um deboche do servidor público municipal dizendo
que vai aplaudir o que está acontecendo em São Paulo. Não, nobre Líder, com
toda a consideração que tenho por V. Exª não é o aplauso que estamos pedindo
para a Prefeita de São Paulo. É a batalha, é o arrojo para que o Prefeito, para
que o PT aqui em Porto Alegre possa seguir a linha que está seguindo a Prefeita
Luiza Erundina lá em São Paulo. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Wilton Araújo.
O SR. WILTON ARAÚJO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
encaminho em nome da Bancada do PDT proposta de minha autoria que visa justamente
a desnudar a contradição existente no seio do Partido dos Trabalhadores e na
Frente Popular hoje administrando Porto Alegre que, no discurso e talvez até na
vontade – dou de barato – queiram recuperar o nível de salário, queiram trazer
de volta o poder aquisitivo do trabalhador no Município de Porto Alegre. Mas,
na prática, o que se vê são aquelas evasivas e desculpas de hoje pela manhã e
de quinta-feira, quando os Secretários da Administração e da Fazenda estiveram
presentes, tentando justificar, no nosso entendimento, a incapacidade
administrativa de cumprir o desejo político, pelo menos expressado um pouquinho
antes das urnas. Um pouquinho antes das urnas, iriam todos recuperar o salário
dos trabalhadores. E aí vejo um exemplo muito bom da Prefeita que tem em suas
mãos tão complexa tarefa de administrar São Paulo. E não é por causa do
achatamento salarial, não vamos transformar o achatamento salarial e os
trabalhadores no bode expiatório de uma administração. Acho que eles não
deverão sofrer, de jeito nenhum. Acho que a transferência de se priorizar
outras áreas do Município não deve ser escondida atrás de boas e bonitas
palavras, como vimos hoje pela manhã, o Secretário da Fazenda. Então por isso
colocamos de maneira bem objetiva e bem clara esse Voto de Congratulações,
mostrando, com isso, que os Senhores, se quiserem – e acho que podem fazê-lo –
poderão dar o justo para os trabalhadores de Porto Alegre. Fica o apelo da
Bancada do PDT para que se possa recuperar, administrando bem esta Cidade, o
poder aquisitivo do nosso trabalhador, ele que viu, durante tanto tempo,
defasado o seu salário e terão, evidentemente, como disse o Líder do PT, aí, o
direito de pegar a carona, não provocando o arrocho salarial. Provocando o
arrocho salarial não podem pegar a carona, não terão o direito. Tenho certeza
que muitos dos Vereadores do PT, hoje aqui concordam com a posição da sua
correligionária de São Paulo e por isso vão aprovar o Voto de Congratulações
que este Vereador apresentou. Acho que eles vão demonstrar que o sentido desta
Casa foi de despertar na Administração, quem sabe, o mesmo sentido de
reconhecimento pelo trabalho daqueles que lutam dia-a-dia por Porto Alegre.
Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Em votação. (Pausa.) Os Senhores
Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.
(Obs.: Foram aprovados os
demais Requerimentos constantes na Ata.)
O SR. PRESIDENTE: Nós recebemos um Requerimento do Ver.
Artur Zanella referente à Constituição Estadual e como nós já deferimos a
constituição da Comissão Externa, então discutiremos esse Requerimento na data
de amanhã. Encerrados os trabalhos.
(Levanta-se
a Sessão às 18h57min.)
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